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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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<strong>Herberto</strong> Hel<strong>de</strong>r: umA i<strong>de</strong>iA <strong>de</strong> PoesiA omníVorA<br />

as inclusões e exclusões das diferentes edições <strong>de</strong> Poesia toda, precisamente;<br />

e por exemplo, o mais recente ofício cantante, <strong>de</strong> 2009, não os<br />

reconhece como tal – mas também não é «poesia toda»). entretanto,<br />

o certo é que a i<strong>de</strong>ia subjacente à afirmação <strong>de</strong> «[ousar] um poema<br />

meu» nunca <strong>de</strong>saparece das versões ou <strong>do</strong>s poemas muda<strong>do</strong>s, surjam<br />

eles coligi<strong>do</strong>s em que colectânea surgirem. existe por isso uma implicação<br />

subjectiva também ela omnívora aqui, <strong>de</strong> uma poesia «antropofágica»<br />

(como a colectânea <strong>de</strong> 1971), que indistintamente olha para o<br />

que a separa <strong>do</strong>s outros. em terceiro lugar, a passagem a uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

literatura que concebe o poeta como um «leitor» constitui também um<br />

pronunciamento poético sobre a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> poesia ela mesma: a escrita é<br />

agora re<strong>de</strong>finida a partir da leitura. e o poeta é entendi<strong>do</strong> não apenas<br />

como aquele que produz mas como aquele que respon<strong>de</strong>, numa i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> replicação, ou <strong>de</strong> conversa, a que voltarei mais tar<strong>de</strong>, e que julgo<br />

<strong>de</strong>cisiva neste contexto. Finalmente, parece-me haver também importantes<br />

ilações a retirar da passagem <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> «poemas traduzi<strong>do</strong>s»<br />

a uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> «poemas muda<strong>do</strong>s». O poeta diz «Não tenho<br />

direito algum <strong>de</strong> garantir que os textos <strong>de</strong>ste livro são traduções»: o<br />

facto é que, na realida<strong>de</strong>, ele garante que eles são outras coisas, não<br />

menos importantes. Por exemplo, são «explosões velozmente laboriosas».<br />

É minha convicção <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mos ler nesta metáfora não<br />

apenas a imagética romântica (eventualmente <strong>de</strong> ascendência órfica)<br />

que efectivamente é a sua, mas também o impulso surrealista que<br />

<strong>de</strong>sempenhou um papel tão <strong>de</strong>cisivo na poética herbertiana. A «explosão»<br />

a que ele se refere pertence à mesma família <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os «cadavres<br />

exquis» que a tradição surrealista vigorosamente elaborou a partir<br />

<strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1920: na precisa medida em que não pretendia<br />

(antes recusava) realizar um texto «completo» («to<strong>do</strong>»), o «cadavre<br />

exquis» provinha <strong>de</strong> um procedimento autoral comum ou <strong>de</strong> grupo,<br />

além <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r por uma robusta incorporação <strong>do</strong> não-familiar no<br />

território da poesia. O termo «explosão» para <strong>de</strong>signar estes poemas e<br />

as mudanças que eles fazem ocorrer parece-me ser uma outra forma<br />

<strong>de</strong> aludir a esta mesma tradição.<br />

Todas estas questões apontam para uma outra característica<br />

comum, que julgo relacionada com aquilo que o poeta ele mesmo<br />

<strong>de</strong>signou como «vozes comunicantes» na sua antologia <strong>de</strong> 1985 e<strong>do</strong>i<br />

lelia <strong>do</strong>ura. Antologia das Vozes comunicantes da Poesia mo<strong>de</strong>rna<br />

Portuguesa. Ao avisar preambularmente <strong>de</strong> que se tratava <strong>de</strong> uma antologia<br />

«ferozmente parcialíssima», <strong>Herberto</strong> Hel<strong>de</strong>r sublinhava o papel<br />

fundamental <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> pelo diálogo no seu conceito <strong>de</strong> poesia<br />

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