15.04.2013 Views

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

244 diAcríticA<br />

À luta na arena artificial corre o sangue,<br />

Mato-me primeiro e a ti <strong>de</strong>pois<br />

(«Sangue oculto», in rock in rio <strong>do</strong>uro, 1992)<br />

em «Saliva», mais uma vez, o amor é «luta» e confronto, embate<br />

corpo-a-corpo, numa sucessão <strong>de</strong> acções contraditórias, activas versus<br />

passivas – tais como «ver-te afundar» / «salvar-te» – que assumem<br />

<strong>conto</strong>rnos sa<strong>do</strong>-masoquistas. Os trocadilhos «casar / caçar» e «diz:<br />

parar / disparar» reforçam o sabor beligerante (e erótico) da canção,<br />

aliás ironicamente acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma toada fortemente lírica na<br />

versão musicada:<br />

• eu quero caçar contigo. Amanhã<br />

Abre os olhos, vem comigo. Diz: parar (…)<br />

eu quero ver-te a afundar<br />

Para <strong>de</strong>pois te salvar.<br />

eu quero lutar contigo. Devagar<br />

Dá-me os braços, vem comigo expirar<br />

(«Saliva», in mosquito, 1998)<br />

Como é <strong>de</strong> matéria criminal que se trata, este amor violento<br />

merece tratamento em consonância, ou seja, queixa na esquadra e<br />

auto <strong>de</strong> contravenção. Mas resta a dúvida sobre se a «violência autorizada»<br />

<strong>do</strong> amor é mesmo crime, ou antes «sonho» e fantasia:<br />

• Sonhar que te raptei & roubei<br />

Apresenta queixa na esquadra.<br />

Gritar que te amei<br />

Aqui d’el rei<br />

Inversão na auto-estrada.<br />

que crimes cometi só eu sei<br />

Não vás tu ser autuada<br />

No que te meti e <strong>de</strong>ixei<br />

Violência autorizada<br />

(«Canadádá», in <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cisnes, 2002)<br />

A faceta sexual <strong>do</strong> amor ocupa faixas numerosas e variadas da<br />

discografia <strong>de</strong> Reininho (algumas das quais já focadas acima), com<br />

graus <strong>de</strong> explicitação igualmente diversos. Des<strong>de</strong> logo, a figuração<br />

<strong>de</strong> partes <strong>do</strong> corpo assume metonimicamente a expressão <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo<br />

carnal. em «O slow que veio <strong>do</strong> frio», o autor «<strong>de</strong>saperta o soutien»<br />

à parceira, pedin<strong>do</strong>-lhe «Dá-me uma volta / Aperta-me / Dá-me outra<br />

volta / Vem», e verbaliza o corpo através <strong>de</strong> fragmentos – como «ancas»<br />

(suas) e «coxas» (<strong>de</strong>la):

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!