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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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o NONSeNSe que fAz senti<strong>do</strong>(s)<br />

251<br />

Juntamente com o vácuo da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo assoma a<br />

figura <strong>do</strong> novo-rico – contra a qual o autor se rebela quan<strong>do</strong> reclama,<br />

em «Pronúncia <strong>do</strong> Norte», que «Novos-ricos são má sorte» (in rock in<br />

rio <strong>do</strong>uro, 1992) – bem como um outro espécime social, fruto talvez<br />

da combinação entre a prosperida<strong>de</strong> e um certo senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> «politicamente<br />

correcto». Reininho chama-lhe o «novo homem mau» e <strong>de</strong>dica-<br />

-lhe uma canção homónima. Trata-se <strong>de</strong> um indivíduo ambicioso,<br />

linear, tecnológico, que, «meio máquina», habita «edifícios inteli-<br />

gentes» e robotiza<strong>do</strong>s, sem ter gran<strong>de</strong>s sensações («não sente fome<br />

nem o<strong>do</strong>r») nem sofrer <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgostos amorosos («não vai morrer <strong>de</strong><br />

amor»), preocupa<strong>do</strong> antes com o buraco <strong>do</strong> ozono e com as energias<br />

sustentáveis («mete super sem estricnina»):<br />

• Num edifício inteligente<br />

Tecto falso, gente indiferente<br />

Já foi um índio, dinossauro,<br />

Meio máquina, meio centauro<br />

Não sente fome nem o<strong>do</strong>r<br />

quan<strong>do</strong> pensa sai-lhe o vapor<br />

O<strong>de</strong>ia o álcool e a nicotina<br />

Mete super sem estricnina<br />

Homem mau<br />

É o novo homem mau (…)<br />

Não vai morrer <strong>de</strong> amor<br />

Sem ozono fica mais calor (…)<br />

(«Homem mau», in rock in rio <strong>do</strong>uro, 1992)<br />

Particularmente sintomático <strong>do</strong> <strong>de</strong>sprezo que merece ao autor<br />

esta espécie <strong>de</strong> yuppie, jovem urbano executivo que é mau porque faz<br />

tu<strong>do</strong> <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> bem, é o facto <strong>de</strong> «odiar o álcool e a nicotina». Na<br />

verda<strong>de</strong>, esta abstinência altiva e pedagógica não po<strong>de</strong>ria senão ser<br />

vista como um supremo handicap aos olhos <strong>de</strong> quem, sem ro<strong>de</strong>ios ou<br />

falsos moralismos, assume uma existência boémia e he<strong>do</strong>nística, como<br />

veremos <strong>de</strong> seguida.<br />

5. «rezo a baco uma oração»: Prazeres e excessos<br />

As faixas em que Rui Reininho aborda a temática <strong>do</strong> álcool e das<br />

drogas são numerosas e exibem múltiplos cambiantes. Algumas parecem<br />

ater-se a uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> rebeldia e inconformismo, ou até <strong>de</strong> um

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