15.04.2013 Views

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

214 diAcríticA<br />

originalida<strong>de</strong> e interesse relativamente às soluções ou méto<strong>do</strong>s ofereci<strong>do</strong>s<br />

pelos investiga<strong>do</strong>res da matéria, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Roger Bismut e Jorge <strong>de</strong><br />

Sena, até elizabeth Naïque-Dessai e Leo<strong>de</strong>gário A. <strong>de</strong> Azeve<strong>do</strong> Filho.<br />

De acor<strong>do</strong> com aquele eminente investiga<strong>do</strong>r, o critério que<br />

concebi possui o efeito <strong>de</strong> contribuir para <strong>de</strong>smistificar o carácter solitário<br />

e excepcional que sói conce<strong>de</strong>r-se à poesia <strong>de</strong> Camões, ao tornar<br />

«muito problemática a <strong>de</strong>marcação e a caracterização <strong>de</strong> traços poéticos<br />

idiolectais que atestariam a autoria camoniana». 3 Com efeito,<br />

embora Carolina Michaëlis <strong>de</strong> Vasconcelos chamasse a atenção há<br />

mais <strong>de</strong> um século para a hipertrofia que tem caracteriza<strong>do</strong> a apreciação<br />

<strong>de</strong> Camões e para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens comparativas, 4<br />

e apesar <strong>de</strong> Jorge <strong>de</strong> Sena ter acentua<strong>do</strong> o que lhe parecia comum a<br />

to<strong>do</strong>s os poetas portugueses <strong>do</strong> tempo quan<strong>do</strong> introduziu na crítica<br />

e historiografia literária portuguesas o conceito <strong>de</strong> «Maneirismo», 5 a<br />

verda<strong>de</strong> é que a tendência sempre <strong>do</strong>minante tem si<strong>do</strong> a <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar<br />

a obra <strong>de</strong> Camões isoladamente, não raro à custa da própria racionalida<strong>de</strong><br />

hermenêutica.<br />

Ao mesmo tempo, porém, o méto<strong>do</strong> que apresentei – basea<strong>do</strong><br />

na pesquisa <strong>de</strong> indícios retóricos e inscrições textuais, e, em processo<br />

simultâneo, atento aos princípios básicos da fiabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>cumental<br />

e da imitação renascentista – permitiu a Aguiar e Silva reconhecer,<br />

apesar <strong>de</strong> algumas hesitações pertinentes, o peso indubitável <strong>do</strong> meu<br />

argumento em favor da atribuição <strong>do</strong> soneto «O dia em que eu nasci»<br />

a Camões. 6 quer dizer, o âmbito intertextual e intersubjectivamente<br />

comunitário da produção lírica portuguesa <strong>do</strong> terceiro quartel <strong>do</strong><br />

século XVI não escon<strong>de</strong>, em paralelo, a presença <strong>de</strong> sujeitos, em processo<br />

gradual <strong>de</strong> emergência, com uma «assinatura» poética já suficiente<br />

para permitir a sua i<strong>de</strong>ntificação.<br />

3 ibi<strong>de</strong>m, p. 215.<br />

4 «Os mo<strong>de</strong>rnos admira<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Camões não comparam suficientemente (…) É por<br />

isso que eles imaginam que uma poesia <strong>de</strong> Camões é um fenómeno à parte» (Carolina<br />

Michaëlis <strong>de</strong> Vasconcelos, «O texto das ‘Rimas’ <strong>de</strong> Camões e os apocryphos», revista da<br />

socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> instrução <strong>do</strong> Porto, II Ano, n.º 3, 1882, pp. 107-108). No plano da meto<strong>do</strong>logia<br />

e da hermenêutica, foi este o único estu<strong>do</strong>, em quarenta anos, «com que», nas<br />

palavras <strong>de</strong> Jorge <strong>de</strong> Sena, «Carolina Michaëlis beneficiou os estudiosos portugueses<br />

que, interessa<strong>do</strong>s nos problemas da autoria camoniana, não lessem alemão» (A estrutura<br />

<strong>de</strong> «os lusíadas», 2.ª edição, Lisboa: edições 70, 1980, p. 188, n. 4).<br />

5 «O Maneirismo <strong>de</strong> Camões», «Camões e os maneiristas» e «Maneirismo e Barroquismo<br />

na poesia portuguesa <strong>do</strong>s séculos XVI e XVII», ensaios republica<strong>do</strong>s em trinta<br />

Anos <strong>de</strong> camões 1948-1978, Lisboa: edições 70, 1980, vol. 1, pp. 43-92.<br />

6 Vítor Aguiar e Silva, op. cit., p. 216.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!