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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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172 diAcríticA<br />

6.<br />

Apenas o incompreensível é susceptível <strong>de</strong> entrar num processo<br />

<strong>de</strong> experimentação e apenas a experimentação pensa. Há nesta um<br />

princípio <strong>de</strong> fuga: escapar à morte, ao cerco <strong>do</strong>s outros, ao senso<br />

comum, a si-próprio (sobretu<strong>do</strong> a si-próprio como imenso repositório<br />

<strong>do</strong>s outros), para cumprir a sorte <strong>de</strong> ser homem, um animal que entre<br />

o nascer e o morrer enfrenta aquilo que po<strong>de</strong> <strong>de</strong>struí-lo, que po<strong>de</strong><br />

dar-lhe a morte. A poesia é um esta<strong>do</strong> agu<strong>do</strong> da consciência disso,<br />

e como tal é travessia <strong>do</strong> terror e da <strong>do</strong>minação, <strong>de</strong> todas as forças<br />

que enfranquecem aquilo que na vida é potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar-agir.<br />

Nessa travessia, o amor é um <strong>do</strong>s nomes <strong>do</strong> acontecimento enquanto<br />

aquilo que aniquila o terror pela força da metamorfose (metamorfose,<br />

e não sublimação).<br />

7.<br />

Voltan<strong>do</strong> ao terror: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascer que os humanos ficam expostos<br />

ao que po<strong>de</strong> dar-lhes a morte; o primeiro grito, motiva<strong>do</strong> pela pene-<br />

tração <strong>do</strong> ar que se respira, é resposta a uma mudança violenta, ao<br />

iniciar da relação com o exterior enquanto relação com a agressão<br />

que <strong>de</strong>le po<strong>de</strong> vir a cada momento e, como se saberá <strong>de</strong>pois, com a<br />

morte que <strong>de</strong>le virá, mais ce<strong>do</strong> ou mais tar<strong>de</strong>. A consciência <strong>do</strong> exterior,<br />

entendida aqui como o sentimento <strong>do</strong> exterior, o sentir que se é<br />

afecta<strong>do</strong>, é pois o fulcro <strong>do</strong> humano como repetição (o retomar kierkegaardiano),<br />

<strong>do</strong> nascer e <strong>do</strong>s pactos que o terror <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia, o primeiro<br />

<strong>do</strong>s quais consiste na afirmação da paixão das paixões (relações com<br />

o exterior) que não preten<strong>de</strong> <strong>do</strong>miná-las por completo ou liquidá-las,<br />

pois tal seria em <strong>de</strong>finitivo submeter-se à morte em vida, isto é, a um<br />

esta<strong>do</strong> semelhante ao <strong>de</strong> antes <strong>do</strong> nascer, em que não se dá resposta,<br />

em que se está apenas enrola<strong>do</strong> sobre si, sem reflexão. A paixão das<br />

paixões é a única afirmação <strong>de</strong>las, que introduz imediatamente na<br />

reflexão a sua inesgotabilida<strong>de</strong>, pois a paixão das paixões, ela própria<br />

uma paixão é a única afirmação, pois as paixões, em si mesmas passivida<strong>de</strong>,<br />

não se afirmam, apenas se cumprem no alheamento <strong>de</strong> si, na<br />

pura exteriorida<strong>de</strong>. Por outro la<strong>do</strong>, como sempre acontece a partir <strong>do</strong><br />

3.º grau <strong>de</strong> reflexão, a ambiguida<strong>de</strong> é inultrapassável, o que significa<br />

que tanto se está perante a potencialização <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> subjecti-<br />

vação como perante a potencialização <strong>do</strong> exterior, pois é impossível<br />

distinguir se se trata <strong>de</strong> paixão da paixão da paixão ou <strong>de</strong> paixão da<br />

paixão da paixão.

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