15.04.2013 Views

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

234 diAcríticA<br />

• anjos papu<strong>do</strong>s que nunca saem <strong>do</strong> chão<br />

anjos tão queri<strong>do</strong>s sem vícios nem paixão<br />

anjos <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s a quem cortaram a mão<br />

anjos perfeitos que a<strong>do</strong>rmecem nos leitos<br />

anjos que acordam sempre insatisfeitos (…)<br />

(«Ciclones», in sob escuta, 1994)<br />

• Que pena as árvores morrerem <strong>de</strong> pé<br />

Que pena ser massa comida às colheres<br />

Que pena o meu humor ser negro<br />

Que pena ser mouro ter só quatro mulheres<br />

Que pena este grito não chegar a Marte<br />

Que pena pequena a pena <strong>de</strong> morte<br />

Que pena a tinta não ser permanente (…)<br />

(«Pena <strong>de</strong> Morte», in tu<strong>do</strong> o que você queria ouvir, 1996)<br />

Doutras vezes, o paralelismo surge não só anaforicamente, i.e. na<br />

abertura <strong>do</strong> verso, mas também no seu interior, mais uma vez como se<br />

<strong>de</strong> um eco se tratasse ou, no caso presente, como se uma onda <strong>do</strong> mar<br />

estival inundasse o poema:<br />

• vamos à praia vamos a Gaia<br />

vamos é entrar para um convento<br />

vamos só usar mini-saia<br />

vamos ao vento vamos à praia<br />

vamos acabar com a guerrra<br />

vamos lá ao planeta Gaia<br />

vamos à terra vamos à praia<br />

(«Digital Gaia», in Popless, 2000)<br />

em «Cerimónias», um hino aos amores <strong>de</strong>sencontra<strong>do</strong>s, o paralelismo<br />

surge ao serviço da antítese, estabelecen<strong>do</strong> um fosso em pleno<br />

verso e um corte no espaço que partilham os amantes:<br />

• tu lavas eu limpo<br />

tu sonhas eu durmo<br />

tu branco e eu tinto<br />

tu sabes eu invento<br />

tu calas eu minto<br />

Arrumas e eu rego<br />

Retocas eu pinto<br />

Cozinhamos para três<br />

tu mor<strong>de</strong>s eu trinco<br />

Detestas eu gosto<br />

Magoas eu brinco<br />

(«Cerimónias», in Psicopátria, 1986)

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!