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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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94 diAcríticA<br />

AS MUSAS CeGAS VII (fragmento)<br />

(...)<br />

essa criança é uma coisa que está nos meus <strong>de</strong><strong>do</strong>s;<br />

às vezes <strong>de</strong>bruço-me sobre as cisternas, e as vertigens,<br />

e as virilhas em chama.<br />

É a minha vida. Mas essa criança<br />

é tão brusca, tão brusca, ela <strong>de</strong>strói e aumenta<br />

o meu coração.<br />

No outono eu olhava as águas lentas,<br />

ou as pistas <strong>de</strong>ixadas na neve<br />

<strong>de</strong> fevereiro, ou a cor feroz,<br />

ou a arcada <strong>do</strong> céu com um silêncio completo.<br />

Misturava-se o vinho <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim, misturava-se<br />

a ciência da minha carne<br />

atónita. escuta: cada vez a minha vida<br />

é mais hermética.<br />

essa criança tem os pés na minha boca<br />

<strong>do</strong>lorosa.<br />

(...)<br />

(Hel<strong>de</strong>r, 1981: 112-113)<br />

A MINHA VIDA, A MAIS HeRMÉTICA<br />

este amor literal, o pormenor <strong>do</strong>s lábios, a aproximação<br />

da consciência é a situação mais nítida sobre a profundida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s gritos.<br />

Sobre a colina tradicional, sen<strong>do</strong> a tradição um único<br />

momento, estou na mesma situação <strong>de</strong> blake e na situação<br />

<strong>de</strong> mim mesma quan<strong>do</strong> ouvia o infinito no grito das crianças<br />

e quan<strong>do</strong> era evi<strong>de</strong>nte. Porém não terminava o crepúsculo, nem os jogos<br />

se estavam a tornar obscuros, nem junto à casa aparecera<br />

[a fisionomia da imagem<br />

<strong>de</strong> mãe. Nada se opõe, tu<strong>do</strong> difere, este sistema simbólico<br />

inclui os gritos, com mais numerosas referências.<br />

Tu<strong>do</strong> o que disse com literalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá parecer,<br />

agora, o aviso <strong>de</strong> que a minha vida é a mais hermética.<br />

(Brandão, 1975: 65)<br />

DEPOIS NO CHÃO DOS OLHOS<br />

É <strong>de</strong> admirar o cuida<strong>do</strong> com que Rosa Maria Martelo ressalta a<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enquadrar a poesia <strong>de</strong> <strong>Herberto</strong> Hel<strong>de</strong>r em esquemas<br />

redutores. É isto já uma tradição na crítica portuguesa. Para<br />

Gastão Cruz: «Poucos poetas nos darão como <strong>Herberto</strong> Hel<strong>de</strong>r a

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