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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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(77 × 14) + 2009: 30 ⊃ belezA (HerbertequAção)<br />

125<br />

«Deus / se houvesse» é sagração <strong>de</strong> «corpo» e «encontro», interdito<br />

zero. Adília Lopes: «(Acho que o prazer é casto / o que não é casto / é<br />

o simulacro <strong>do</strong> prazer / ou a renúncia ao prazer / tanto o simulacro /<br />

como a renúncia)» 1 (Lopes, 2000: 46): <strong>Herberto</strong>, certamente, também<br />

acha que o «prazer» mundano «é casto». Não sei se Dante concor-<br />

daria. Mas <strong>Herberto</strong> assim <strong>de</strong>ve pensar, tanto que uma das mais notáveis<br />

celebrações <strong>do</strong> poema é um verso <strong>de</strong> amor, «amo-te com <strong>do</strong>m e<br />

susto», e sua natureza é a da poesia amorosa: «aos vinte ou quarenta<br />

os poemas <strong>de</strong> amor têm uma força directa». Com quem terá aprendi<strong>do</strong><br />

o poeta a articular amor e <strong>de</strong>sejo num só mecanismo <strong>de</strong> vida,<br />

morte, muitas vidas e diversas mortes? Certamente com Camões,<br />

<strong>de</strong> quem <strong>Herberto</strong> é fino e admira<strong>do</strong> leitor. e não foi precisamente<br />

Camões quem se empenhou para encaixar, a partir, em gran<strong>de</strong> medida,<br />

<strong>de</strong> sua atenta leitura <strong>de</strong> Petrarca, o «amor» «puro» («casto», para falar<br />

com Adília) no «amor» «vivo» e o «amor» «vivo» no «amor» «puro» –<br />

os versos que me ocorrem, obviamente, são: «[e] o vivo e puro amor<br />

<strong>de</strong> que sou feito / como a matéria simples busca a forma» (Camões,<br />

2005: 126) –? e Petrarca, por sua vez, não terá aprendi<strong>do</strong> imensamente<br />

com o autor da comédia?<br />

Assim, Camões sagra<strong>do</strong>r e <strong>de</strong>ssacraliza<strong>do</strong>r, <strong>Herberto</strong> sagra<strong>do</strong>r e<br />

<strong>de</strong>ssacraliza<strong>do</strong>r, e a tal «<strong>de</strong>ssacralização» da «crítica académica» não<br />

po<strong>de</strong> mesmo fazer muita impressão. Curioso: leiam-se alguns versos<br />

da «inédita» <strong>de</strong> 2008: «balançan<strong>do</strong>, menininha, barca bêbeda, / mas<br />

enredada em mim como o alimento luminoso no / bicho da terra vil<br />

e tão pequeno, / ah se incen<strong>de</strong>ie a gente um <strong>do</strong> outro (...)» (Hel<strong>de</strong>r,<br />

2008: 143). Um diálogo com Rimbaud, outro com Camões. em 2009, é<br />

assim o fragmento: «balançan<strong>do</strong>, menininha, barca bêbeda, / mas enredada<br />

em mim como o alimento luminoso, / ah se incen<strong>de</strong>ie a gente um<br />

<strong>do</strong> outro (...)» (Hel<strong>de</strong>r, 2009: 546). Rimbaud fica, Camões sai. Camões<br />

sai? Camões fica, mas no poema da «catorzinha», que assim termina:<br />

«(...) luz terrestre, em mim, bicho vil e vicioso». Apetece-me achar uma<br />

feliz coincidência ser justamente o poema em que uma anti-Beatrice<br />

tem muito corpo, muito «halo», o novo lugar para o poeta que levaria<br />

Petrarca e Dante à cama caso cama eles quisessem. Afinal, Camões<br />

1 Parece-me que soa estranho fazer com que se encontrem esses <strong>do</strong>is poetas. «Se<br />

<strong>Herberto</strong> <strong>de</strong>sse a mão a Adília» foi o título <strong>de</strong> uma fala que fiz, em parceria com a jovem<br />

Raquel Menezes, estudiosa da obra adiliana, na Casa Fernan<strong>do</strong> Pessoa. O que me chama<br />

a atenção é o título da chamada que foi ao ar em Mun<strong>do</strong> Pessoa, o blogue da Casa:<br />

«Atracção <strong>de</strong> opostos». Tu<strong>do</strong> bem então, os «opostos» que se atraiam mais uma vez.<br />

O en<strong>de</strong>reço on<strong>de</strong> se encontra a chamada é http://mun<strong>do</strong>pessoa.blogs.sapo.pt/323819.html.

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