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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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o NONSeNSe que fAz senti<strong>do</strong>(s)<br />

239<br />

enorme para gostar <strong>do</strong> que é normal»), é ofereci<strong>do</strong> em «Impressões<br />

digitais», a par com um outro símile, este algo críptico:<br />

•<br />

Deixo tu<strong>do</strong> para mais logo, não sou analógico, sou criatura digital<br />

Ten<strong>do</strong> para mais louco, não sou patológico, sou como o papel vegetal (…)<br />

(«Impressões digitais», in Valsa <strong>do</strong>s <strong>de</strong>tectives, 1989)<br />

Ainda que, em todas estas ocorrências, seja a conjunção «como»<br />

a estabelecer o confronto comparativo, há também exemplos <strong>de</strong><br />

símiles construí<strong>do</strong>s com recurso a outras partículas, como «tal»:<br />

• Tem me<strong>do</strong> <strong>do</strong> escuro, tal criança sem futuro<br />

É falso, velhaco, cobar<strong>de</strong> arma<strong>do</strong> em duro<br />

(«Valsa <strong>do</strong>s <strong>de</strong>tectives», in Valsa <strong>do</strong>s <strong>de</strong>tectives, 1989)<br />

2. «o sopro quente <strong>de</strong> um kiss»: idiomas e cocktails linguísticos<br />

Uma análise linguística <strong>do</strong> estilo <strong>de</strong> Rui Reininho não po<strong>de</strong>ria<br />

esquecer a questão <strong>do</strong>s estrangeirismos, cultiva<strong>do</strong>s com veia rebel<strong>de</strong><br />

e cosmopolita <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> carreira, em obediência ao mote<br />

«Só gosto <strong>do</strong> que é importa<strong>do</strong>» (da faixa «que importa» – outro trocadilho<br />

– <strong>de</strong> rock in rio <strong>do</strong>uto, 1992). A profusão <strong>de</strong> exemplos – sobretu<strong>do</strong><br />

anglicismos, mas também galicismos e algumas incursões no<br />

castelhano e no alemão, entre outras línguas – remete para uma cultura<br />

urbana que se revela logo no álbum <strong>de</strong> estreia <strong>do</strong>s GNR, em 1982.<br />

Se «O slow que veio <strong>do</strong> frio» (outra alusão literária, a o espião que<br />

veio <strong>do</strong> frio, <strong>de</strong> John Le Carré, 1963) abre com «O sopro quente <strong>de</strong> um<br />

kiss», outras faixas <strong>do</strong> mesmo álbum circulam extensa e livremente<br />

entre várias línguas. Veja-se «Dupont & Dupont» (cujo título é uma<br />

referência às personagens <strong>de</strong> Hergé, se bem que, contrariamente ao<br />

original, os nomes surjam ambos redigi<strong>do</strong>s com «t»), faixa que exprime<br />

uma babel <strong>de</strong> referências multilingues:<br />

ela é<br />

• blitz, tampax<br />

Mamã, mandrax<br />

As formas dum sax<br />

C’est la coqueluche (…)<br />

Vai um cocktail<br />

bloody Mary? Pale ale!<br />

bloody Mary? Pale ale!<br />

(«Dupont & Dupont», in in<strong>de</strong>pendança, 1982)

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