o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho
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84 diAcríticA<br />
movimento importante e, por várias razões: em primeiro lugar, porque<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então nenhum outro movimento poético surgiu entre nós: <strong>de</strong>pois,<br />
porque o melhor da nossa poesia actual (ano <strong>de</strong> 71) <strong>de</strong>riva <strong>do</strong>s que<br />
participaram na Poesia 61 (luisa [sic] neto Jorge, maria teresa Horta,<br />
gastão cruz), ou <strong>do</strong>s que, posteriormente apareci<strong>do</strong>s, nela se filiam <strong>de</strong><br />
mo<strong>do</strong> directo ou indirecto (Arman<strong>do</strong> silva carvalho, luísa ducla soares,<br />
António torra<strong>do</strong>, etc...); em terceiro lugar pela consciência crítica que, a<br />
partir da teorização <strong>de</strong> gastão cruz, permitiu a releitura mais justa <strong>de</strong><br />
certa poesia anterior (<strong>do</strong> «neo-realismo», em particular); e, ainda pela<br />
influência que teve em certos autores (carlos <strong>de</strong> oliveira, António ramos<br />
rosa, João rui <strong>de</strong> sousa, etc.) que, implícita ou explicitamente, acusaram<br />
o impacte <strong>do</strong> movimento; por fim pela forma como soube enten<strong>de</strong>r<br />
a gran<strong>de</strong> poesia que nas suas margens se ia escreven<strong>do</strong> (<strong>de</strong> um eugénio<br />
<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, <strong>de</strong> um <strong>Herberto</strong> Hél<strong>de</strong>r [sic], <strong>de</strong> um ruy belo, por exemplo).<br />
mais haveria a dizer: a Poesia 61 teve o enorme mérito <strong>de</strong> merecer a<br />
mais total incompreensão da crítica <strong>de</strong> tradição «presencista», revelan<strong>do</strong><br />
até que ponto esta se mostrava incapaz <strong>de</strong> ter acesso a uma poesia que<br />
exigia um acto efectivo <strong>de</strong> leitura. os gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>fensores da literatura<br />
contra tu<strong>do</strong> o que em nossos dias a ameaça são exemplos perfeitos <strong>do</strong><br />
mais completo analfabetismo literário.<br />
qual o <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>r comum para esta geração envolvida pelo<br />
movimento da Poesia 61? Por um la<strong>do</strong>, ela recusava uma interpretação<br />
sócio-lógica ou psico-lógica <strong>do</strong>s textos. não se trata agora <strong>de</strong> encontrar<br />
a tradução esteticamente a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> uma vivência muito sincera<br />
<strong>do</strong> sujeito psicológico, nem <strong>de</strong> ir <strong>de</strong>scobrir a mensagem social ou o<br />
programa i<strong>de</strong>ológico que tal sujeito em poesia nos propõe. trata-se <strong>de</strong><br />
formular uma concepção topológica <strong>do</strong> texto como lugar on<strong>de</strong> o senti<strong>do</strong><br />
se produz.<br />
(Coelho, 1972: 264-265)<br />
Não conheço síntese mais brilhante, logo, a meu ver, não há<br />
nada que se compare ainda hoje a esta apresentação <strong>de</strong> Poesia 61 por<br />
eduar<strong>do</strong> Pra<strong>do</strong> Coelho. Nada há que se lhe possa acrescentar, aliás,<br />
em termos <strong>de</strong> notícia <strong>de</strong> um acontecimento. Trata-se, na verda<strong>de</strong>, da<br />
«Apresentação <strong>de</strong> um livro: (este) rosto», ensaio publica<strong>do</strong> em A palavra<br />
sobre a palavra, em 1972. Nos parágrafos cita<strong>do</strong>s, impressionam<br />
as reflexões introdutórias com as quais o ensaísta chama a atenção<br />
para a importância <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> livro (individual) <strong>de</strong> poemas <strong>de</strong> Fiama<br />
Hasse Pais Brandão, assinalan<strong>do</strong>-lhe o ponto justo <strong>de</strong> ruptura e <strong>de</strong>