o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho
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200 diAcríticA<br />
serão aqui <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong>s na discussão <strong>do</strong>s problemas textuais da o<strong>de</strong><br />
«Fogem as neves frias»). Preten<strong>de</strong>r hierarquizar, portanto, os testemunhos<br />
quinhentistas em que assenta o nosso conhecimento da poesia<br />
<strong>de</strong> Camões é algo que, hoje, nos <strong>de</strong>ve merecer as maiores reservas 1 .<br />
1. o<strong>de</strong> i, v. 45<br />
Aos problemas textuais e exegéticos levanta<strong>do</strong>s pela «O<strong>de</strong> à Lua»<br />
<strong>de</strong> Camões <strong>de</strong>diquei um artigo no número anterior <strong>de</strong>sta revista<br />
(diacrítica: ciências da literatura n.º 22/3 [2008], pp. 323-342), no<br />
qual me referia em especial ao enigmático «epílio» que surge no v. 45.<br />
Dei-me conta, entretanto, que o mesmo verso já causara perplexida<strong>de</strong><br />
a Francisco Rebelo Gonçalves, em páginas que lhe são consagradas no<br />
vol. III da sua obra completa (pp. 309-313), tomo indispensável para<br />
to<strong>do</strong>s os camonistas que se interessem especificamente pela crítica<br />
textual <strong>de</strong> os lusíadas e das rimas. A solução apontada por Rebelo<br />
Gonçalves (i.e. por «epílio» leia-se «esquílio») é engenhosa, mas passa<br />
ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> facto fundamental em que, a meu ver, toda a discussão da<br />
«O<strong>de</strong> à Lua» se <strong>de</strong>ve basear, a saber: a versão publicada nas rhythmas<br />
<strong>de</strong> 1595 segue, com correspondências claras, por vezes verso a verso, a<br />
«O<strong>de</strong> a Diana» <strong>de</strong> Bernar<strong>do</strong> Tasso, ao contrário da versão reelaborada<br />
da mesma o<strong>de</strong> publicada nas rimas <strong>de</strong> 1598, em que o afastamento <strong>do</strong><br />
texto-matriz <strong>de</strong> Tasso é tão notório quanto surpreen<strong>de</strong>nte. Admitin<strong>do</strong><br />
que a versão <strong>de</strong> 1595 correspon<strong>de</strong> à redacção original <strong>de</strong>ste poema<br />
em concreto <strong>de</strong> Camões, a solução <strong>de</strong> Faria e Sousa por mim relembrada<br />
no artigo anterior continua a parecer-me preferível, por permitir<br />
espelhar no v. 45 da o<strong>de</strong> <strong>de</strong> Camões a referência ao mesmo orónimo<br />
(o monte Cinto na ilha <strong>de</strong> Delos) explicitamente nomea<strong>do</strong> no verso<br />
correspon<strong>de</strong>nte da o<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tasso.<br />
1 A situação no que toca ao estabelecimento <strong>do</strong> texto <strong>de</strong> os lusíadas não <strong>de</strong>stoa<br />
<strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong>, agora que ficou assente que, indiferentemente à questão <strong>do</strong>s bicos<br />
<strong>do</strong>s pelicanos e às velhas siglas e/ee, houve só uma edição em 1572 (cf. Aguiar e Silva<br />
2008: 23-54), da qual os exemplares conheci<strong>do</strong>s divergem entre si (como era natural<br />
na época – cf. o caso paradigmático da primeira edição <strong>de</strong> Shakespeare), ainda que<br />
<strong>de</strong>zassete <strong>de</strong>les, segun<strong>do</strong> nos mostra o valioso CD-ROM prepara<strong>do</strong> por K. David Jackson<br />
com a reprodução <strong>de</strong> vinte e nove exemplares da edição <strong>de</strong> 1572, testemunhem talvez a<br />
fase final da impressão, já que se nos apresentam relativamente mais estáveis (e mais<br />
correctos) <strong>do</strong> que os <strong>de</strong>mais no tocante aos erros <strong>de</strong> impressão que patenteiam.