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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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A «AntroPófAgA festA» 17<br />

1971 são, só por si, a aplicação concreta <strong>de</strong>ste mesmo ensinamento.<br />

Diz-nos o autor que esses textos «não são “poemas”» (Hel<strong>de</strong>r, 2006a:<br />

127). Serão diálogos por terem como interlocutores um conjunto <strong>de</strong><br />

leitores imprepara<strong>do</strong>s para esta «dança», ou ensaios, por discutirem<br />

noções <strong>de</strong> poética. O peso da teoria vê-se ali transforma<strong>do</strong> em leveza a<br />

partir <strong>do</strong> momento em que, não sen<strong>do</strong> poemas, estes textos se tornam<br />

«prosa quebrada com aparências poemáticas. Por causa <strong>de</strong> um senti<strong>do</strong><br />

“rítmico porque sim”» (i<strong>de</strong>m, 128).<br />

em <strong>Herberto</strong> Hel<strong>de</strong>r, o ofício dançante <strong>de</strong>senha-se em torno<br />

<strong>do</strong> ritmo – o alimento partilha<strong>do</strong> entre o poeta, o poema e o leitor.<br />

O ritmo atribui corporalida<strong>de</strong> ao poema, permite que possamos dançar<br />

o canto:<br />

A poesia não é feita <strong>de</strong> sentimentos e pensamentos mas <strong>de</strong> energia e <strong>do</strong><br />

senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s seus ritmos. A energia é a essência <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e os ritmos<br />

em que se manifesta constituem as formas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Assim:<br />

a forma é o ritmo;<br />

o ritmo é a manifestação <strong>de</strong> energia. (i<strong>de</strong>m, 137)<br />

Ao longo <strong>do</strong> poema contínuo <strong>de</strong> <strong>Herberto</strong>, a dimensão rítmica<br />

é trabalhada no verso e na ocorrência <strong>de</strong> ecos que ganham valor <strong>de</strong><br />

refrão. quem folheie mesmo que apressadamente a obra <strong>do</strong> poeta<br />

notará certamente que há vocábulos repeti<strong>do</strong>s quase em to<strong>do</strong>s os<br />

textos. quem leia um pouco mais <strong>de</strong>moradamente suspeitará que, por<br />

vezes, vocábulos diferentes po<strong>de</strong>m ser agrupa<strong>do</strong>s como sinónimos <strong>de</strong><br />

um mesmo senti<strong>do</strong>. Por exemplo, poema é metaforiza<strong>do</strong> em «casa»,<br />

«pedra», «paisagem», «campo» ou «lugar». Todas as metáforas são aqui<br />

colocadas como substituíveis umas pelas outras, todas transversais e<br />

uníssonas, impulsionadas e fortalecidas por uma energia «selvagem»<br />

(Hel<strong>de</strong>r, 2009: 274) que as atravessa e religa. Colocadas num <strong>de</strong>termina<strong>do</strong><br />

contexto, geram um senti<strong>do</strong> que se <strong>de</strong>sloca entre elas, <strong>de</strong>ntro<br />

da obra. Haverá alguém que já tenha li<strong>do</strong> ou o Poema contínuo ou<br />

Photomaton & Vox sem se ter surpreendi<strong>do</strong> a recuar algumas páginas<br />

ou a avançar outras tantas? Os textos citam-se uns aos outros, recolo-<br />

can<strong>do</strong> palavras-chave em novos contextos, actualizan<strong>do</strong> o seu significa<strong>do</strong>,<br />

permitin<strong>do</strong> que os vocábulos se iluminem uns aos outros e a<br />

<strong>de</strong>cifração <strong>de</strong>sta poesia seja possível. esse movimento transversal é<br />

representa<strong>do</strong> no «Texto 6» pela imagem <strong>de</strong> uma bola, num jogo <strong>de</strong><br />

hóquei, disparada pelo espaço da obra fora, impulsionada pela energia<br />

a que somos convida<strong>do</strong>s a assistir e a incorporar. Nessa medida,

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