15.04.2013 Views

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

190 diAcríticA<br />

que peuvent, que valent la technique, la force militaire, la force policière,<br />

contre la force <strong>de</strong> son amour pour sa terre, ses herbes, ses<br />

plantes, ses arbres, ses eaux, ses oiseaux, ses pierres ? Rien. (…) et les<br />

racines ? Les racines profondément enfouies dans les yeux, dans le cœur<br />

<strong>de</strong> la terre ? (...). Êtes-vous sûrs <strong>de</strong> pouvoir détruire, arracher toutes les<br />

racines d’un baobab, d’un acajou, d’un fromager, <strong>de</strong> couper toutes<br />

les radicelles, une à une, jusqu’à la <strong>de</strong>rnière, dans ce sol graniteux, dans<br />

cette terre graveleuse, caillouteuse, pierreuse ? (pp. 39-40).<br />

O texto literário exalta, pois, a África natural, profunda e misteriosa,<br />

o mistério da floresta, a imensidão <strong>do</strong>s rios e montanhas, a fauna<br />

e flora como um património inegável. Nesta nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural<br />

africana que o discurso ficcional recria, nota-se a fusão entre o mun<strong>do</strong><br />

físico e o metafísico, entre o visível e o invisível. Assim, certos fenómenos<br />

são explica<strong>do</strong>s através da acção <strong>de</strong> forças sobrenaturais, como<br />

o facto <strong>de</strong> o jeep <strong>do</strong> comandante <strong>do</strong> círculo se ter avaria<strong>do</strong> e subitamente<br />

arrancar – «C’est tout simplement fantastique. Surnaturel. Ah!<br />

Cette Afrique, cette insondable Afrique! (…) Ah! L’Afrique! Incompréhensible,<br />

l’irrationnelle Afrique! La raison y perdra toujours son<br />

latin et son grec» (pp. 12-13). O texto faz, ainda, referência a certos<br />

aspectos da cosmogonia agni, como a crença na existência <strong>de</strong> gigantes<br />

monstruosos antes <strong>do</strong> aparecimento <strong>do</strong> homem, nos po<strong>de</strong>res místicos<br />

das máscaras e na comunicação permanente entre mortos e vivos.<br />

O cemitério é igualmente consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um lugar místico por conter os<br />

restos mortais <strong>do</strong>s antepassa<strong>do</strong>s. Ali, inspira<strong>do</strong> pela religião animista,<br />

o protagonista acaba por se sentir em comunhão com os objectos, os<br />

elementos naturais e os seus antecessores.<br />

O universo narrativo <strong>do</strong> romance dá conta, ainda, da importância<br />

<strong>de</strong> que se revestem certas práticas tradicionais <strong>de</strong>screven<strong>do</strong> algumas<br />

festivida<strong>de</strong>s, características da cultura da etnia agni, à base <strong>de</strong> danças<br />

<strong>de</strong> mascara<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> cânticos, acompanha<strong>do</strong>s <strong>de</strong> instrumentos típicos<br />

como o tambor (o chama<strong>do</strong> «tambour parlant» ou «Atougblan», que<br />

serve para chamar as pessoas pelos seus nomes). Por exemplo, a ida<br />

<strong>do</strong> protagonista ao santuário é pretexto para a <strong>de</strong>scrição da festa <strong>do</strong><br />

«igname» (tubérculo característico da alimentação <strong>do</strong>s africanos), que<br />

celebra a abundância, a fecundida<strong>de</strong>, a gratidão à terra. Na cerimónia,<br />

estão presentes os toca<strong>do</strong>res <strong>de</strong> tambor e os dançarinos que executam<br />

representações tradicionais, os reis e os nobres (que presi<strong>de</strong>m ao<br />

ritual), e o «verseur <strong>de</strong> gin», que tem por missão fazer a resenha histórica<br />

<strong>do</strong>s feitos mais importantes <strong>do</strong>s antepassa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> reino <strong>de</strong> Bettié.<br />

Uma outra dança tradicional da etnia agni («Momomé») é relatada no

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!