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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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309<br />

o texto literário e «os álbuns <strong>de</strong> quadradinhos» (boletín, 2006: 156) com «<strong>de</strong>masia<strong>do</strong>s<br />

bonecos para ser literatura» (I<strong>de</strong>m: 157). Não é apenas a preocupação teórica<br />

a que torna contextuais e historicamente <strong>de</strong>finidas as questões levantadas pelos<br />

<strong>de</strong>mais artigos, mas uma reflexão situada em torno das consequências que esta [i]<br />

legitimida<strong>de</strong> ainda <strong>de</strong>bilmente consagrada acarreta para um género que parece ter<br />

<strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> o seu valor, também literário. Logo, a fortuna da BD liga-se <strong>de</strong> um<br />

mo<strong>do</strong> tão profun<strong>do</strong> quanto óbvio com as estratégias editoriais, as modas – académicas,<br />

populares, entre outras – e, porque não, à história <strong>do</strong>s países e das regiões que<br />

são conti<strong>do</strong>s na <strong>de</strong>signação que circunscreve geograficamente os olhares <strong>do</strong> boletín.<br />

Para além disso, é interessante observar como a questão política representa<br />

uma condição sine qua non nos processos <strong>de</strong> emergência e afirmação da BD nos<br />

contextos espanhol em geral – ou galego e basco em particular – e, obviamente,<br />

português. Daí uma BD – nas suas diferentes <strong>de</strong>clinações linguísticas e diacrónicas:<br />

tebeo, historieta ou cómic – que se torna lugar <strong>de</strong> enfoque da[s] história[s] e <strong>do</strong>s<br />

[anti-]heróis nacionais; meio <strong>de</strong> adaptação e apropriação <strong>do</strong>[s] género[s] consagra<strong>do</strong>[s]<br />

<strong>do</strong> chama<strong>do</strong> cânone literário nacional ou, ainda, expressão artística estilisticamente<br />

complexa e conceituada numa dimensão transnacional. em suma<br />

– mas, sem querer simplificar –, uma BD que se configura como representação<br />

mundana (Said, 2007: 75), articulada e engagée e que – também por isso – é abordada<br />

segun<strong>do</strong> perspectivas tão diversificadas quanto criticamente estimulantes.<br />

Por outras palavras, os noves ensaios que compõem o número <strong>do</strong> boletín,<br />

coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> por Antonio J. Gil González e Anxo Tarrío, propõem reflexões amplas<br />

e, ao mesmo tempo, significativamente situadas que realçam as peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

um género artístico cuja tradição e fortuna, sobretu<strong>do</strong> em âmbito ibérico, resultam<br />

<strong>de</strong> to<strong>do</strong> problemáticas. Sem dúvida, é mais <strong>de</strong> que evi<strong>de</strong>nte um esta<strong>do</strong> da arte<br />

muito divergente <strong>do</strong> da BD francesa ou franco-belga – matricial, no panorama<br />

europeu –; todavia, a banda <strong>de</strong>senhada ibérica nas suas diversas <strong>de</strong>clinações contextuais<br />

constitui, em rigor, um género artístico significativo mas que, ao mesmo<br />

tempo, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> apontar para <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s processos atrofiantes – no que<br />

diz respeito sobretu<strong>do</strong> aos fenómenos editoriais e às dinâmicas <strong>de</strong> recepção – que<br />

até <strong>de</strong> antemão salientam o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> crise <strong>de</strong> um produto cultural – ainda hoje –<br />

frequentemente arruma<strong>do</strong> nas estantes <strong>do</strong> livro infanto-juvenil. Pese embora a<br />

consciência <strong>de</strong>sta situação algo problemática, a sensação que fica após a leitura<br />

<strong>de</strong>ste número da revista é a <strong>de</strong> um universo textual, artístico e crítico significativamente<br />

complexo e heterogéneo cuja qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixa pressentir uma inevitável<br />

e crescente afirmação da BD ibérica <strong>de</strong>ntro das práticas culturais mais reconhecidas.<br />

Fica-se assim com a noção <strong>de</strong> que o BDófilo já não precisa <strong>de</strong> «escon<strong>de</strong>r os<br />

álbuns no meio <strong>de</strong> uma revista económica» (boletín, 2006: 175) pois já começará a<br />

aperceber-se <strong>de</strong> que estes livros feitos <strong>de</strong> bonecos po<strong>de</strong>m ser, até, mais interessantes<br />

<strong>do</strong> que certa literatura.<br />

bibliografia<br />

said, edward (2007). umanesimo e critica <strong>de</strong>mocratica. cinque lezioni. Milano:<br />

Il Saggiatore [2004].<br />

el e n a Br u g i o n i<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Minho</strong>

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