15.04.2013 Views

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

92 diAcríticA<br />

Desconcertada mão, como a <strong>de</strong>ssa criança tão brusca, que <strong>de</strong> tão<br />

brusca <strong>de</strong>strói e aumenta o coração <strong>do</strong> Poeta.<br />

Criança aqui antecipada, e <strong>do</strong>lorosa e necessariamente fragmentada,<br />

<strong>de</strong> outro ciclo, «O poema V» <strong>do</strong> mesmo A colher na boca<br />

(...)<br />

Ah, não se <strong>de</strong>ve dizer que um rosto per<strong>de</strong><br />

as suas brasas, só porque se inclina sobre a penumbra<br />

<strong>de</strong> uma fonte ou um instrumento rápi<strong>do</strong>.<br />

Porque o rumor ressalta na noite parada, e po<strong>de</strong>-se<br />

enlouquecer eternamente. Ou porque a colher<br />

po<strong>de</strong> ligar a terra à violência <strong>do</strong> espírito.<br />

(...)<br />

eu abaixava-me e tomava como nos braços<br />

essa criança ignota.<br />

(...)<br />

(Hel<strong>de</strong>r, 1981: 52)<br />

No fun<strong>do</strong>, «Autor fragmento» é uma homenagem <strong>de</strong> Fiama Hasse<br />

Pais Brandão a <strong>Herberto</strong> Hel<strong>de</strong>r, ou melhor, é uma leitura comovida<br />

da autora <strong>de</strong> Homenagemàliteratura ao autor <strong>de</strong> A colher na boca. e ele<br />

o sabe, como prova a solitária e única epígrafe à Poesia toda <strong>de</strong> 1981, a<br />

primeira una, dan<strong>do</strong>-lhe os ares <strong>de</strong> pássaro prefacia<strong>do</strong>r 12 .<br />

em literatura nada se prova, mas dá um sabor especial ao verbo<br />

usá-lo em título tão apura<strong>do</strong> como esta colher, <strong>de</strong> ouro já, experimentan<strong>do</strong><br />

as suas muitas e variadas ementas.<br />

Como, e é Fiama mais uma vez, em «A minha vida, a mais hermética»,<br />

<strong>de</strong> novas visões <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, 1975, na sua iluminada interpre-<br />

tação <strong>de</strong> verso justamente celebra<strong>do</strong> <strong>de</strong> «As musas cegas», o VII poema,<br />

mais precisamente.<br />

Vale a pena reler os <strong>do</strong>is poemas, que não serão, entretanto, <strong>de</strong>tida-<br />

mente interpreta<strong>do</strong>s. Postos la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong> (força <strong>de</strong> expressão, na verda<strong>de</strong>,<br />

um após o outro), <strong>Herberto</strong> Hel<strong>de</strong>r e Fiama Hasse Pais Brandão reiteram<br />

a meto<strong>do</strong>logia aplicada em sala <strong>de</strong> aula no ensino da leitura <strong>de</strong><br />

poesia e neste ensaio, em que a relação dual se quer compreendida<br />

no espaço vivo da interlocução prazerosa entre textos <strong>de</strong> literatura 13 .<br />

culos, publica<strong>do</strong> em Homenagemàliteratura, 1976. Por exemplo, p. 9: «Reconsi<strong>de</strong>rar:<br />

(...) 4. o aprofundamento da personagem literária ou simbólica,/ 5. a absoluta unicida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Autor,/ 6. a absoluta necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Autor, (...)»<br />

12 Cf. nota 22.<br />

13 Luis Maffei: «Se poetas po<strong>de</strong>m-se irmanar, Fiama escreve: ‘(...) sen<strong>do</strong> a tradição<br />

um único / momento, estou na mesma situação <strong>de</strong> blake’: ‘na mesma situação’ <strong>de</strong> <strong>Herberto</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!