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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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248 diAcríticA<br />

(1.º escalão)», como vimos, a Juanita faz os seus «French services»<br />

ao som das exclamações <strong>do</strong> cliente («She licks she sucks / que rico! /<br />

Oh she <strong>do</strong>es it / Oh she <strong>do</strong>es it»), em «Julieta Sue & Sida», a prostituição<br />

volta a servir <strong>de</strong> mote. Começan<strong>do</strong> pela <strong>de</strong>scrição da personagem,<br />

o autor passa à <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong>s clientes – «Romeus canibais» – estabelecen<strong>do</strong><br />

um paralelo irónico com o casto par shakespeareano:<br />

Também em «Laika Virgem», <strong>do</strong> álbum mais recente <strong>de</strong> Reininho,<br />

o amor <strong>de</strong> estrada está em sal<strong>do</strong> e, também aí, a ironia perpassa, como<br />

aliás no título <strong>de</strong> Ma<strong>do</strong>nna, a comparação da prostituta com uma<br />

virgem. Veja-se, ainda, o trocadilho entre «Like a» e «Laika» (nome da<br />

ca<strong>de</strong>la espacial), em sintonia com o epíteto usa<strong>do</strong> no primeiro verso:<br />

• Ca<strong>de</strong>la com cio, mal amada,<br />

Fazem <strong>de</strong>s<strong>conto</strong>s na auto-estrada?<br />

Já po<strong>de</strong>mos ir à lua? (…)<br />

Já sabemos andar na lua,<br />

Já po<strong>de</strong>mos ir à rua<br />

(«Laika Virgem», in companhia das índias, 2008)<br />

Finalmente, em «Turbina & Moça», o cruzamento «amor /<br />

dinheiro» surge expresso literalmente. É curioso notar que, uma vez<br />

mais, a alusão irónica à virginda<strong>de</strong> subjaz ao trocadilho com a menina<br />

e moça <strong>de</strong> Bernardim Ribeiro. Paralelamente, o imaginário <strong>do</strong>s amores<br />

<strong>de</strong> porto, com prostitutas, marinheiros e ladrões, evoca uma certa<br />

atmosfera cinematográfica, tornada num thriller <strong>de</strong> agora pelas referências<br />

à night e ao turbo:<br />

• Pára <strong>de</strong> falar <strong>de</strong> dinheiro<br />

e <strong>de</strong> amor, nenhum <strong>de</strong> nós foi o primeiro,<br />

Houve sempre um estupor, um ladrão, um marinheiro,<br />

Turbina e moça,<br />

Meninas na night, às vezes são damas,<br />

Sem o xadrez <strong>do</strong>s pregos das cama,<br />

Turbina e moça, sai, turbina e moça<br />

(«Turbina e Moça», in companhia das índias, 2008)<br />

4. «vivo numa ilha sem sabor tropical»:<br />

Crítica social, retrato individual<br />

As líricas <strong>de</strong> Rui Reininho <strong>de</strong>screvem sem dúvida outros círculos<br />

temáticos para além <strong>do</strong> núcleo amoroso. Ainda que seja arrisca<strong>do</strong><br />

tentar uma or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>ssas forças diversas, dir-se-ia que a dicoto-

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