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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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(77 × 14) + 2009: 30 ⊃ belezA (HerbertequAção)<br />

121<br />

falta <strong>de</strong> cobra, saí<strong>do</strong> da edição <strong>de</strong> 2009, e mais ainda <strong>do</strong>s livros que<br />

contêm obras mudadas para a língua portuguesa. Os que existiam até<br />

1996 entraram pela última vez na edição da Poesia toda daquele ano.<br />

Os que vieram <strong>de</strong>pois só possuem edições avulsas. Pena. N’o bebe<strong>do</strong>r<br />

noturno, feito entre 1961 e 1966, <strong>Herberto</strong> traduziu/mu<strong>do</strong>u o «Cântico<br />

<strong>do</strong>s cânticos», tempos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter, em 1958, escrito «O amor em<br />

visita», poema rigorosamente funda<strong>do</strong> no texto atribuí<strong>do</strong> a Salomão.<br />

No poema que este ensaio contempla diretamente, leio: «e a beleza é<br />

sim incompreensível, / é terrível, já se sabia pelo menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Velho<br />

Testamento». Talvez o Deus em que <strong>Herberto</strong> vislumbre mais profícua<br />

interlocução seja o <strong>do</strong> Velho Testamento, em virtu<strong>de</strong> da violência e<br />

da força poética – tímidas no Testamento ulterior, menos simbólico,<br />

menos metafórico, cristão em <strong>de</strong>masia – que ali resi<strong>de</strong>m.<br />

Apenas para dizer <strong>de</strong> novo: o leitor tenha «setenta e sete» e<br />

«catorze», já que muitos <strong>do</strong>s poemas novíssimos, e tantos outros<br />

não tão novos assim, têm dicção cambiante no universo <strong>do</strong>s gêneros<br />

sexuais. Fiquemos nós, então, atrás da menininha <strong>de</strong> quatro e <strong>de</strong><br />

quatro como a menininha. eu nem precisava ter i<strong>do</strong> tão longe no<br />

tempo atrás dum travesti e <strong>de</strong> um «ânus» em <strong>Herberto</strong>; 2009: «a luz <strong>de</strong><br />

um só teci<strong>do</strong> a mover-se sob o vesti<strong>do</strong> / rapaza raparigo / trav super<strong>do</strong>t<br />

sôfrego belíssimo / mamas sem leite mas / terrestres soberanas / pênis<br />

intenso / ânus sombrio» (i<strong>de</strong>m, 550). Nada além <strong>de</strong> um curto poema<br />

<strong>de</strong> três versos separa o da «aparecida» <strong>do</strong> que acabo <strong>de</strong> citar, e o da<br />

«aparecida», por sua vez, suce<strong>de</strong> o da remissão ao «Cântico <strong>do</strong>s cânticos».<br />

Não há aí um núcleo <strong>de</strong> força que extrapola a mera ocupação<br />

<strong>de</strong> lugar <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s gêneros sexuais, ou sexual-discursivos? A propósito,<br />

seria mal não transcrever os tais três versos cuja existência acusei:<br />

«porque estremeço à maravilha da volta com que tiras o vesti<strong>do</strong> por<br />

cima da cabeça, / coluna <strong>de</strong> fogo, / pela minha morte acima» (ibi<strong>de</strong>m).<br />

Fiquemos nós, então, atrás da menininha <strong>de</strong> quatro e <strong>de</strong> quatro<br />

como fôssemos a menininha, tenhamos as «mamas» «soberanas» <strong>do</strong><br />

«belíssimo» «trav» e chupemos as «mamas» «soberanas» <strong>do</strong> «belís-<br />

simo» «trav», e vejamos o tu tirar «o vesti<strong>do</strong> por cima da» sua «cabeça»<br />

e tiremos «o vesti<strong>do</strong> por cima da» nossa «cabeça». Tu<strong>do</strong> porque<br />

fiquemos <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> poema, lugar da relação sexual pois, em rigor,<br />

no poema não há relação sexual – não estou citan<strong>do</strong> ninguém agora,<br />

<strong>de</strong> acor<strong>do</strong>? –, há um <strong>de</strong>sencontro: «¿mas como crime, pe<strong>do</strong>filia, se a<br />

beleza, essa, <strong>de</strong>sencontrada / nas contas, é que é abusiva?». Referi-me,<br />

porque muitos se referem, a sujeito(s) forte(s) em <strong>Herberto</strong> Hel<strong>de</strong>r,<br />

mas havemos <strong>de</strong> concordar que, com ou sem esse tipo <strong>de</strong> sujeito, se

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