o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho
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AindA AProPósito <strong>do</strong> soneto O DIA eM qUe eU NASCI MOURA e PeReÇA<br />
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sombra camoniana. Nestas condições, os critérios <strong>do</strong> corpus minimum<br />
tornar-se-iam pouco viáveis se fossem aplica<strong>do</strong>s ao gran<strong>de</strong> poeta <strong>de</strong><br />
Ponte da Barca. Pelo menos, tais critérios teriam forçosamente <strong>de</strong><br />
aliar-se ao estu<strong>do</strong> das componentes i<strong>de</strong>ológicas que condicionaram a<br />
activida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s editores e críticos.<br />
Sem esquecer a óbvia animosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Faria e Sousa – responsável<br />
máximo pela concentração autoral e alteração textual <strong>do</strong>s repertórios<br />
líricos – e <strong>do</strong>utros editores <strong>de</strong> alguma forma <strong>de</strong>le <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (Álvares<br />
da Cunha, Tomás José <strong>de</strong> Aquino, Juromenha…), o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e<br />
investigação a <strong>de</strong>senvolver não po<strong>de</strong>rá passar sem incidir sobre a produção<br />
<strong>de</strong> livros impressos, com tu<strong>do</strong> o que tal activida<strong>de</strong> acarretava já<br />
no Portugal <strong>de</strong> finais <strong>do</strong> século XVI a princípios <strong>do</strong> século XVII. Será<br />
necessário perscrutar as estratégias primitivas <strong>de</strong> marketing, as condicionantes<br />
impostas pelos «aparelhos i<strong>de</strong>ológicos» (censura inquisitorial,<br />
política monárquica, grupos sociais…), e as tendências artísticas<br />
e institucionais emergentes, e não coinci<strong>de</strong>ntes com aquelas pre<strong>do</strong>minantes<br />
na formação intelectual da «geração <strong>de</strong> Camões», tendências<br />
que levaram (já o sabemos) os séculos XVI e XVII à modificação das<br />
lições <strong>do</strong>s textos e ao favorecimento <strong>de</strong> certas práticas editoriais em<br />
<strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outras.<br />
10. em suma, tu<strong>do</strong> leva a crer que o soneto «O dia em que eu nasci<br />
moura e pereça» foi composto por Luís <strong>de</strong> Camões. Mas ir em busca<br />
duma prova <strong>do</strong>cumental que garanta a irrefutabilida<strong>de</strong> da atribuição<br />
parece-me objectivo <strong>de</strong> somenos num enquadramento investigativo<br />
<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>r duma filologia meto<strong>do</strong>logicamente renovada e socialmente<br />
comprometida, porque esta terá primeiro <strong>de</strong> enfrentar e <strong>de</strong>smontar as<br />
fortíssimas condicionantes i<strong>de</strong>ológicas, muitas vezes sob a forma <strong>de</strong><br />
preconceitos, que atravessaram séculos <strong>de</strong> edição e comentário camonísticos,<br />
e que continuam ainda hoje a fazer-se sentir.<br />
bibliografia<br />
ag u i a r e si lva , Vítor <strong>de</strong> (1994), camões: labiritnos e fascínios, Lisboa: Cotovia.<br />
—— (2008), A lira <strong>do</strong>urada e a tuba canora. novos ensaios camonianos, Lisboa:<br />
Cotovia.<br />
Alv e s, Hélio J. S. (2007), «A propósito <strong>do</strong> soneto o dia em que eu nasci e <strong>do</strong> seu<br />
autor» in Isabel Almeida, Maria Isabel Rocheta e Teresa Ama<strong>do</strong> (orgs.),