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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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236 diAcríticA<br />

• A<strong>do</strong>ro as pegas e os pe<strong>de</strong>rastas que passam (…)<br />

A<strong>do</strong>ro esses ratos <strong>de</strong> esgoto<br />

que disfarçam ao <strong>de</strong>alar<br />

Como se fossem mafiosos convictos habitua<strong>do</strong>s a controlar<br />

(«efectivamente», in Psicopátria 1986)<br />

• Julieta, Sue & Sida<br />

São perigosas, são comida (…)<br />

São bilhetes só <strong>de</strong> ida<br />

(«Julieta Sue & Sida», in tu<strong>do</strong> o que você queria ouvir, 1996)<br />

As ocorrências metafóricas que a seguir se apresentam, inseridas<br />

num cenário amoroso, assumem um pen<strong>do</strong>r discursivo, prolongan<strong>do</strong>-se,<br />

em variações dúplices, pelo fio <strong>do</strong> poema. Se no primeiro<br />

caso a <strong>de</strong>scrição física se revela graficamente, no segun<strong>do</strong> as metáforas,<br />

ora <strong>de</strong>sencantadas ora oníricas, <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bram-se como um origami<br />

sobre as ruínas <strong>do</strong> amor:<br />

• A tua presença – oh Mana!<br />

Reflecte-se no satélite incha<strong>do</strong>, nos sulcos <strong>do</strong> viaduto<br />

Nessas unhas <strong>de</strong> verniz negro<br />

Brilhan<strong>do</strong> nos lábios, cereja cristalizada<br />

(«Choque frontal», in Psicopátria 1986)<br />

• eu bebi sem cerimónia o chá (…)<br />

num lago <strong>de</strong> champô (…)<br />

Senti as nossas vidas separadas<br />

aquário <strong>de</strong> ostras cru<br />

Ana Lee, Ana Lee,<br />

Meu lótus azul, ópio <strong>do</strong> povo<br />

Jaguar perfuma<strong>do</strong>, tigre <strong>de</strong> papel<br />

(«Ana Lee», in rock in rio <strong>do</strong>uro, 1992)<br />

Uma variação sobre o amor <strong>de</strong>sencontra<strong>do</strong> surge também em<br />

«Twistarte», com uma outra metáfora:<br />

• Uma relação tão forte<br />

Logo que aborte<br />

É bússola sem norte<br />

(«Twistarte», in twistarte, 1983)<br />

Já em «Santa Polónia», os amantes surgem «<strong>de</strong>ita<strong>do</strong>s e abraça<strong>do</strong>s»,<br />

na linha-férrea por sinal, não se aperceben<strong>do</strong> da locomotiva que<br />

chega. A atmosfera <strong>de</strong> tragédia iminente, acentuada por referências à<br />

eternida<strong>de</strong> e ao infinito, prossegue na <strong>de</strong>scrição da amada, baseada<br />

em duas metáforas (a segunda antecedida <strong>de</strong> um cacófato):

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