o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho
o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho
o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
130 diAcríticA<br />
em 1967, reunira pela primeira vez os seus poemas escritos e<br />
publica<strong>do</strong>s até então, num volume intitula<strong>do</strong> ofício cantante. Des<strong>de</strong><br />
1973, o autor passa a reunir a sua obra poética, primeiro em <strong>do</strong>is<br />
volumes intitula<strong>do</strong>s Poesia toda, <strong>de</strong>pois num só volume com o mesmo<br />
título. este seu novo livro, <strong>de</strong> 2001, apresenta-se como uma súmula<br />
daquele to<strong>do</strong>, acolhen<strong>do</strong> apenas alguns poemas <strong>de</strong> alguns <strong>do</strong>s livros aí<br />
reuni<strong>do</strong>s e acrescentan<strong>do</strong> um poema inédito. esse acolhimento é antes<br />
uma escolha feroz. Para além <strong>de</strong> excluir os seus livros <strong>de</strong> versões <strong>de</strong><br />
textos religiosos, rituais, ou poéticos <strong>de</strong> outras culturas e civilizações,<br />
exclui por inteiro alguns outros livros <strong>de</strong> poemas e, radicalizan<strong>do</strong> a<br />
sua i<strong>de</strong>ntificação da poesia com o verso, exclui agora qualquer texto<br />
em prosa. esta radicalização que o levava, em Poesia toda, a guardar<br />
apenas <strong>de</strong> Photomaton & Vox uma «série <strong>de</strong> seis poemas» (em verso),<br />
advertin<strong>do</strong> que ela «continua[va] a fazer parte constitutiva e funcional»<br />
<strong>do</strong> volume <strong>de</strong> on<strong>de</strong> era extraída, leva-o agora a, manten<strong>do</strong> esses poemas,<br />
atribuir-lhes um título novo: (<strong>de</strong>dicatória).<br />
súmula: «pequena suma». este livro é e não é uma antologia,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, porque se escolhe poemas, também reconstrói um poema<br />
contínuo. A própria escolha provoca novas acentuações <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>.<br />
Um único exemplo: o poema <strong>de</strong> A colher na boca que se torna o primeiro<br />
<strong>de</strong>ste livro traz para uma posição inicial a construção mítico-<br />
-poética das «mães» que ecoará, já diferente, no último poema <strong>do</strong> livro<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Os gestos da exigência autoral multiplicam-se. Dos poemas<br />
escolhi<strong>do</strong>s, o livro elimina os títulos e as numerações daqueles que os<br />
têm em Poesia toda. Mais ainda, os títulos <strong>do</strong>s livros <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provêm<br />
os poemas mudam <strong>de</strong> posição e <strong>de</strong> formato: <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> aparecer em<br />
página autónoma e inicial, aparecen<strong>do</strong> apenas no fim <strong>de</strong> um ciclo <strong>de</strong><br />
poemas, alinha<strong>do</strong>s à direita, em tipo mais pequeno que o <strong>do</strong>s versos,<br />
entre parênteses, e em itálico. Ocupam o lugar que nos volumes <strong>de</strong><br />
Poesia toda (e até aos volumes que virão posteriormente a reunir a<br />
sua poesia completa) é ocupa<strong>do</strong> por uma indicação sobre as datas <strong>de</strong><br />
redacção <strong>do</strong>s poemas. É também como se estivessem no lugar <strong>de</strong> uma<br />
assinatura, mas <strong>de</strong> uma assinatura múltipla e ciclicamente diferente,<br />
que é também já texto, margem ou <strong>do</strong>bra <strong>de</strong> texto. Se tais títulos-<br />
-assinaturas constituem ainda referências a livros anteriores, são<br />
agora sobretu<strong>do</strong> marcas <strong>de</strong> um ritmo, marcações <strong>de</strong> ciclos <strong>do</strong> «poema<br />
contínuo»; per<strong>de</strong>ram a sua <strong>do</strong>minância ou, como diria Mallarmé,<br />
<strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> falar <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> alto, para que melhor se ouça o movimento<br />
longo <strong>do</strong> poema ou, nas palavras da nota <strong>de</strong> abertura, «para<br />
que da pauta se erga a música» da linguagem, «segun<strong>do</strong> as inspira-