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o conto insolúvel de Herberto Helder - Universidade do Minho

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<strong>Herberto</strong> Hel<strong>de</strong>r: umA i<strong>de</strong>iA <strong>de</strong> PoesiA omníVorA<br />

«poemas muda<strong>do</strong>s» <strong>de</strong>ntro da obra herbertiana, quer a hesitação <strong>de</strong><br />

que dão conta os diferentes gestos da sua «<strong>de</strong>glutição» por um poeta<br />

tão vigorosamente pessoal, que assume <strong>de</strong>liberadamente uma atitu<strong>de</strong><br />

marginal face às instituições em torno da poesia (universida<strong>de</strong>s, jornais<br />

e crítica, prémios, etc.). Aquilo que eles pressupõem, parece-me, é um<br />

mapa <strong>de</strong> leituras que sublinha as relações produzidas tanto por afinida<strong>de</strong>s<br />

como por distâncias, tanto por convergências como por divergências.<br />

Uma marginalia possível <strong>de</strong> <strong>Herberto</strong> Hel<strong>de</strong>r manifestaria,<br />

estou em crer, não apenas um conjunto <strong>de</strong> heranças mais ou menos<br />

directas ou lineares, mas ainda um enorme conjunto dissonante <strong>de</strong><br />

disparos («novíssimos») para um conjunto <strong>de</strong> textos que, também<br />

eles, «transtornam» a leitura sedimentada da poesia <strong>de</strong> <strong>Herberto</strong>, por<br />

aquilo que introduzem <strong>de</strong> raspagem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Mas uma poesia que<br />

se quer, como é o caso, o lugar <strong>de</strong> uma experiência não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> se medir com o transtorno <strong>do</strong> que corre sempre o risco <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

parecer «erra<strong>do</strong>».<br />

Neste senti<strong>do</strong>, o que é aqui proposto é também um diferente<br />

conceito <strong>de</strong> tradição, transversal a regiões e tempos diferentes, atravessan<strong>do</strong>-os<br />

numa espécie <strong>de</strong> movimento potencialmente caótico,<br />

parcialmente governa<strong>do</strong> pelo acaso (e porque não?). Trata-se <strong>de</strong> uma<br />

concepção, pois, <strong>de</strong> um cosmos dinâmico, um universo anima<strong>do</strong> e<br />

habita<strong>do</strong> por forças, em que os objectos parecem ser mais circunstanciais<br />

e precários <strong>do</strong> que o acontecimento da vida ele mesmo. Através<br />

<strong>de</strong>ste procedimento repeti<strong>do</strong>, o poema é concebi<strong>do</strong> e entendi<strong>do</strong> como<br />

capaz <strong>de</strong> se tornar parte <strong>de</strong> uma poética própria na justa medida em<br />

que se manifesta como outro, <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong> resolven<strong>do</strong> a tensão<br />

entre <strong>do</strong>mesticação e estranhamento que Lawrence Venuti (1995)<br />

tinha <strong>de</strong>scrito como fazen<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> acto translatório. Porque se trata<br />

em última análise <strong>de</strong> um poema estranho precisamente na sua forma<br />

pessoal e mesmo <strong>do</strong>méstica, enquanto «explosão» <strong>do</strong> não-familiar no<br />

teci<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma obra e <strong>de</strong> um projecto pessoais. Joaquim Manuel Magalhães<br />

reconheceu-o e disse-o <strong>de</strong> forma iluminada, ao observar:<br />

É aliás profundamente provoca<strong>do</strong>r encontrarmos nesta poesia<br />

tão radicalmente nova um não menos radical senti<strong>do</strong> da tradição:<br />

a tradição como fulgor explodinte, a granada em que cada «morto»<br />

<strong>de</strong>flagra, essa litania <strong>de</strong> exaltantes recomeços que é, por exemplo,<br />

«elegia múltipla», on<strong>de</strong> «estar à altura <strong>do</strong>s mortos» […] acaba por nos<br />

lembrar quanto esta escrita, aparentemente <strong>de</strong> rotura, o é apenas por se<br />

colocar na linha <strong>do</strong>s que continuamente voltam ao início Como, aliás, a<br />

revisitação <strong>de</strong> tradições em o bebe<strong>do</strong>r nocturno não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> nos<br />

fazer lembrar.<br />

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