Baixar - Proppi - UFF
Baixar - Proppi - UFF
Baixar - Proppi - UFF
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
chamado de um dos frequentadores: “... o chamado dele, cara, é uma das coisas mais lindas<br />
que eu já ouvi, cara. … Aquilo me emocionava de uma maneira. E eu já estava com esse processo<br />
[de conversão] dentro de mim né. E aquilo foi mais um dos elementos de... ‘como o Islã<br />
é bonito’, sabe?” Assim, essas reuniões podem reforçar o sentimento de pertencimento dos<br />
membros, assim como conquistar novos adeptos, já que há uma presença considerável de frequentadores<br />
não-muçulmanos, sejam curiosos, pessoas ‘à caminho da conversão’, visitantes,<br />
cônjuges de fiéis, jornalistas, antropólogos…<br />
Assim, como venho mostrando, as orações coletivas na sexta-feira para a realização do<br />
sermão são momentos em que a comunidade está voltada para si mesma, isso produz efeitos<br />
agregadores entre os membros. No entanto, essa abertura para fora da comunidade está sempre<br />
presente, de modo que esse ‘voltar da comunidade para si’ jamais é um fechamento. Seja<br />
pela presença de não muçulmanos, seja pelos temas abordados, as reuniões de sexta-feira<br />
também servem para que a comunidade se posicione em relação a questões e contextos mais<br />
amplos. Os temas dos sermões variam de questões ligadas aos rituais, significados de determinadas<br />
práticas, interpretações doutrinais, assim como temas mais abrangentes, que estão<br />
ligados a questões que envolvem a ummah, a comunidade muçulmana internacional.<br />
Assim, em junho, à época das discussões sobre o ataque israelense à flotilha de bandeira<br />
turca que tentou cruzar o bloqueio israelense e egípcio à Faixa de Gaza, foi este o tema<br />
do sermão do dia 4. A mesquita estava particularmente cheia. Depois de proclamar do alto do<br />
minbar uma exaltação a Deus, à sua revelação ao seu último profeta e mensageiro, Muhammad,<br />
primeiro em árabe, para depois repeti-la em português 33 , Munzer Isbelle inicia uma digressão<br />
sobre a perfeição da criação divina, da justeza e correção de cada elemento e da disposição<br />
do mundo permitida por Deus ao homem, que serviria para atender a cinco necessidades<br />
básicas: “São cinco necessidades básicas, sem as quais o homem não pode ter uma vida<br />
digna. São elas: a preservação da vida, a preservação da honra, a preservação da razão, a preservação<br />
da religião e a preservação da mente, da razão 34 . […]. Veja que o Islam considerou<br />
essas cinco coisas como necessidades básicas. É fundamental que todo ser humano tenha elas<br />
33 Por email, Fernando Celino assim me informou a respeito dessa passagem que sempre abria os sermões de<br />
Munzer Isbelle na mesquita da Luz: “[…] trata-se de uma mensagem que o profeta dirigia aos seus<br />
companheiros na maioria das vezes em que iria iniciar uma fala, um discurso, um sermão. Por isso o Munzer<br />
sempre começava a khutbah desse modo, ou seja, para seguir uma sunna do profeta. Mas um trecho desse texto<br />
que o profeta falava é o primeiro versículo da 4ª surata, As Mulheres. "Óh humanos, temei a vosso Senhor que<br />
vos criou de um só ser, do qual criou sua companheira, e de ambos fez descender inumeráveis homens e<br />
mulheres (...)".”<br />
34 Munzer repete, aparentemente de forma um tanto incoerente, o termo ‘razão’ em duas das necessidades<br />
básicas do homem segundo o Alcorão. Provavelmente refere-se à condição sã da psique humana na segunda<br />
menção, o que torna então a frase completa de sentido, uma vez que o termo ‘razão’ segue o termo ‘mente’.<br />
97