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Lévi-Strauss se volta mesmo ao tema das possíveis relações entre magia e ciência.<br />

Qual seria propriamente o pecado da magia, se há algum? Há, mas jamais aquele apontado<br />

pela antropologia vitoriana, já que o pensamento mágico não apresenta qualquer rejeição pelo<br />

determinismo causal, base do pensamento científico; ao contrário, se excede nesse determinismo,<br />

produzindo associações onde elas não podem existir. No entanto, tal proliferação conceitual<br />

não é deficiência, mas atenção às propriedades do real, e essa atenção conta mais do<br />

que os resultados. Assim, a primeira diferença entre magia e ciência é o determinismo global<br />

generalizado que a primeira supõe, contra a distinção de níveis e ordens de realidade, característica<br />

da ciência. Lévi-Strauss deixa aflorar seu hegelianismo ao ilustrar as relações entre as<br />

duas formas de pensamento pela clássica imagem hegeliana do pensamento espiralado:<br />

Mas não se poderia ir mais longe e considerar o rigor e a precisão que o pensamento<br />

mágico e as práticas rituais testemunham como produtores de uma apreensão inconsciente<br />

da verdade do determinismo, enquanto modo de existência de fenômenos<br />

científicos, de maneira que o determinismo seria globalmente suposto e simulado,<br />

antes de ser conhecido e respeitado? Os ritos e as crenças mágicas apareceriam então<br />

como tantas outras expressões de um ato de fé numa ciência ainda por nascer.”<br />

(Lévi-Strauss 2006:26, ênfases minhas)<br />

No plano da experiência ainda uma série de associações e aproximações são realizadas e que<br />

posteriormente se mostram verdadeiras. E tais aproximações de grupo de coisas não são fruto<br />

de um ‘frenesi associativo’, nem tem resultados derivados de um jogo de sorte, já que a aleatoriedade<br />

não é o princípio eficaz aqui. A intelecção e a experiência reduzem o número de<br />

possibilidades dadas. Lévi-Strauss procura deixar claro que não está voltando às teses durkheimianas<br />

da magia como forma tímida, rústica e iniciante de ciência quando fala das anunciações.<br />

Magia aqui é uma expressão metafórica da segunda, uma sombra que apresenta um<br />

corpo.<br />

No entanto, como dar conta da diferença, pois que ela existe, entre o pensamento científico<br />

e o mágico, selvagem? Lévi-Strauss aponta o que ele chama de ‘paradoxo do neolítico’.<br />

O período neolítico é o período que domina as artes da civilização. Esse domínio, essa conquista<br />

depende que o homem seja herdeiro de uma longa tradição científica. Mas se essa tradição<br />

científica se acumula para realizar-se em determinado momento e produzir a revolução<br />

neolítica, como explicar a distinção nós/eles? Se há continuidade, por que ela desaparece? Por<br />

que há estagnação desse pensamento que foi capaz de revolucionar a trajetória da humanidade?<br />

De acordo com Lévi-Strauss, o paradoxo aceita somente uma solução: existem dois mo-<br />

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