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Baixar - Proppi - UFF

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entendido e pronto. A senhora reclamava: “Não precisava. Foi só um mal-entendido, ela vai<br />

perder uma coisa maravilhosa [a descoberta do Islã] por causa de uma bobagem.” Idriss permanecia<br />

placidamente na banca, com a expressão serena. A reação geral foi de que tudo não<br />

passou de um mal entendido e logo o clima se dissipou e as orações seguiram normalmente.<br />

No entanto, essa ocorrência revela os estereótipos acerca do Islã que circulam na sociedade<br />

carioca, que contorna a comunidade muçulmana. As reuniões de sexta-feira congregam<br />

seus membros, fazem convergir, ou buscam fazer convergir seus estados de opinião por meio<br />

da Khutbah e, por meio dessa abertura, evidencia a necessidade de marcar posição frente a<br />

esse tipo de opinião estereotipada, mas sabidamente comum no imaginário da população carioca<br />

e brasileira de um modo geral.<br />

A Khutbah materializa essa conexão com o ‘fora’ da comunidade por meio do ritual da<br />

conversão, a shahada, frequentemente realizada às sextas-feiras. A conversão não é necessariamente<br />

realizada nesse dia, mas é preferido por ser o mais importante da semana, com o<br />

sermão e a congregação da comunidade. O momento é simples, rápido, mas festivo. Sua estrutura<br />

simples e dinâmica é capturada pelos discursos em torno da facilidade e simplicidade<br />

de toda a estrutura geral da prática da fé islâmica, o que evidentemente não poderia estar ausente<br />

no ritual de conversão ao Islã. A materialização da relação com o ‘fora’ da comunidade<br />

que a shahada produz contém diversos significados nessa relação da comunidade muçulmana<br />

com os não muçulmanos, exatamente porque toda a abertura e os diálogos que se estabelecem,<br />

como as aulas de árabe e religião, examinadas a seguir, em último caso intencionam a<br />

sedução de mais um fiel para o Islã.<br />

Uma pessoa decidida a ‘abraçar o Islã’ deve manifestar seu interesse a um muçulmano<br />

que irá, então, proceder a shahada. O ritual pode ser conduzido por qualquer muçulmano, em<br />

qualquer local, desde que o novo fiel manifeste publicamente sua intenção como sincera e<br />

espontânea. Esta é uma característica importante, a espontaneidade e sua manifestação pública.<br />

É frequente na comunidade muçulmana sunita carioca a referência à passagem corânica<br />

que afirma: “Não há imposição quanto à religião, porque já se destacou a verdade do erro.<br />

Quem renegar o sedutor e crer em Deus, ter-se-á apegado a um firme e inquebrantável sustentáculo,<br />

porque Deus é Oniouvinte, Sapientíssimo.” (2:256). Assim, é fundamental que a livre<br />

e espontânea vontade de conversão seja manifesta.<br />

Já apontei que o dia de sexta-feira é normalmente o escolhido. Em sua estrutura geral a<br />

conversão adquire a seguinte forma: em frente à audiência, o desejoso deve manifestar sua<br />

intenção de se reverter e repetir o testemunho de fé dos muçulmanos – a shahada: “lā 'ilaha<br />

'illāl-lāh an Muhammadur rasūlu llāhi”. “Não há outra divindade além de Deus e Muhammad<br />

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