Baixar - Proppi - UFF
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e espontânea vontade. Fazer conhecer a verdade sobre o Islã seria mais importante do que<br />
converter novos adeptos. Mas, ao revelar a verdade, espera-se que a ela atendam novos fieis.<br />
A aula de árabe atraía um interesse não necessariamente religioso e atrelado ao interesse<br />
pelo conhecimento do Islã como possível opção religiosa. Confirma esta assertiva o fato<br />
de alguns alunos reagirem claramente – ao deixarem a mesquita após a aula de língua árabe –<br />
como se o interesse pela religião islâmica fosse, de fato, apenas secundário. Para os convertidos,<br />
o elo era claro e necessário. Um convertido certa vez se manifestou diretamente ao professor,<br />
em meio aos demais alunos, referindo-se à imensa satisfação que sentia ao, enquanto<br />
muçulmano, poder “abrir o Alcorão e reconhecer as letras, compreender as frases e ler corretamente<br />
a palavra [de Deus]. Olha, é emocionante! Você não sabe a satisfação que me proporciona!”,<br />
dirigiu-se a Idriss. Assim, uma atividade cujo propósito é a divulgação da cultura<br />
islâmica para o público não muçulmano, envolve também um retorno a si, no caso dos convertidos<br />
que recorrem a esse canal de divulgação como forma de capturar informações sobre a<br />
religião, desenvolvendo e aprofundando sua prática e vida religiosa.<br />
O curso de árabe previa alfabetização e leitura do idioma, mas não desenvolvia profundamente<br />
a gramática e outros aspectos do idioma. Tratava-se de fazer o aluno reconhecer<br />
as letras, ler palavras e escrever frases simples. Um aprofundamento maior viria em um segundo<br />
módulo de nível intermediário que, como já mencionado, dependeria de interesse da<br />
parte dos alunos e um quorum mínimo de inscritos. O material didático da aula, incluso na<br />
matrícula, compunha-se de uma apostila com exercícios e definições, complementadas por<br />
uma folha extra, especialmente preparada por Idriss com todo o alfabeto detalhadamente descrito<br />
e escrito, expondo cada uma das letras e suas formas iniciais, medianas e finais, além dos<br />
movimentos e sinais.<br />
Apesar da importância da língua árabe no Islã, essa associação não era intensamente<br />
marcada na dinâmica das aulas. O professor se portava como professor de árabe. Inescapavelmente<br />
havia referências ao Alcorão, palavras, significados, usos e desenvolvimentos da<br />
caligrafia árabe, à própria história do Islã, mas a força com que a língua árabe é tratada pelos<br />
muçulmanos como língua divina, sagrada, não aparecia senão nas aulas de religião. Embora<br />
em quase todas as aulas houvesse um ‘bismillah’ 50 no alto do quadro branco, a aula seguia<br />
sem maiores desenvolvimentos pela religião.<br />
As aulas de religião, de responsabilidade de Sami e Fernando, desenvolviam esse tema<br />
50 A expressão inteira é: “bismi-llāhi r-raḥmāni r-raḥīm”. “Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso”.<br />
Fórmula constantemente repetida pelos muçulmanos ao iniciar qualquer atividade. O uso da fórmula vem do fato<br />
dela estar presente abrindo todas as suratas do Alcorão, com a exceção apenas da nona.<br />
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