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Baixar - Proppi - UFF

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validade não esteja fundada em elementos étnicos árabes – eis o projeto da comunidade – entra<br />

em conflito com um conjunto poderoso de elementos constitutivos da identidade muçulmana<br />

que não podem ser facilmente desetnificados – imediatamente começando pela língua<br />

árabe, por exemplo, que tem lugar fundamental em toda a ritualística islâmica. A comunidade<br />

funciona, segundo Montenegro, por meio de um jogo constante entre definir-se para além da<br />

cultura árabe, mas lidando com elementos étnicos poderosos. Isto está implicado numa política<br />

de universalização da doutrina islâmica, de seus componentes, do Islã como uma efetiva e<br />

real alternativa de escolha ativa no mercado religioso brasileiro. O outro dilema, definir-se<br />

como ‘fundamentalista’, implica em associações e aproximações que podem vir a configurarem-se<br />

como altamente perigosas. A carga semântica negativa sobre categorias como ‘fundamentalismo<br />

islâmico’ já ocorria antes mesmo do fatídico 11/09 de 2001, que catapultou esse<br />

‘terrorismo islâmico’ a níveis de popularidade e estigmatização midiática jamais vistos 1 . O<br />

trabalho de Silvia Montenegro mostra como esse projeto identitário está relacionado também<br />

com outras movimentações da comunidade, como o mapeamento especializado de influências<br />

islâmicas na cidade, na vida e na cultura carioca, cujas origens seriam muito mais antigas e<br />

profundas do que se suspeitaria – uma arquitetura islâmica seria fato presente na cidade, assim<br />

como uma presença histórica das Américas que remeteria aos tempos pré-descobrimento em<br />

seu extremo.<br />

O artigo de Paulo Pinto (Pinto 2005) aponta para quadros de análises mais gerais do<br />

Islã no Brasil, abordando as realidades em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. A comunidade<br />

muçulmana carioca é descrita por Paulo Pinto, como no caso de Montenegro (2000) e<br />

Chagas (2006), ainda no espaço de uma mussala (sala de oração) localizada no bairro da Lapa,<br />

área central da cidade do Rio. A sua exposição aponta para algumas configurações básicas<br />

já apontadas por Montenegro, especialmente o foco na formulação da identidade via tradição<br />

textual objetificada, apontando para identidades islamizadas na busca da superação étnica.<br />

Assim porque a composição da comunidade – uma elaboração discursiva, portanto cambiante<br />

na medida em que se confronta com outras elaborações – aqui apresentada destoa do quadro<br />

nacional, pois a maior parte é de convertidos, sem origem árabe. Há, portanto, uma consonância<br />

entre uma composição multiétnica e a formulação de uma política de universalismo da<br />

doutrina e a captura de não-muçulmanos como novos convertidos. As configurações da comunidade<br />

carioca, fundada numa multietnicidade e uma tradição religiosa objetificada (Asad<br />

1986; Eickelman & Piscatori 1996) direcionada para um universalismo textual, constitui-se<br />

1 É sempre importante lembrar que o trabalho de Silvia Montenegro é anterior aos atentados 2001 em Nova<br />

Iorque.<br />

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