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Baixar - Proppi - UFF

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de interlocução que atores, fiéis, sacerdotes, comunidades e outras formas de associação e liderança<br />

religiosas travam com outros personagens em outras esferas nacionais. Como afirmei<br />

no início deste trabalho e procurei demonstrar durante todo ele, as codificações religiosas racionalistas<br />

que circulam na comunidade muçulmana sunita carioca não são simplesmente produtos<br />

nacionais, ‘made in Brazil’. Redes nacionais se estabelecem, evidentemente. Mas redes<br />

internacionais, ou transnacionais agem da mesma forma. O diálogo da comunidade carioca<br />

passa pela articulação de interpretações produzidas por outros intelectuais membros de outros<br />

conjuntos nacionais. Isto, evidentemente, não tira a importância de se considerar o quadro local,<br />

nacional, e que tipo de influência ele produz – pois é óbvio que produz. Procurei apontar<br />

para os diálogos locais que a comunidade muçulmana carioca trava, em especial com a tradição<br />

cristã católica. Ainda assim, a ideia de um ‘islã brasileiro’ não contempla devidamente<br />

o conjunto de fenômenos que abordo neste trabalho.<br />

…<br />

É preciso deixar claro, assim entendo, que, sendo a minha abordagem etnográfica, trabalhei<br />

diretamente com os códigos e elementos presentes na realidade. Busquei demonstrar a partir<br />

dos dados levantados, em constante diálogo com a realidade da comunidade, as conexões<br />

construídas entre o Islã e a ciência moderna. Assim, não esteve presente no escopo de meus<br />

interesses determinar supostas ‘reais possibilidades’ de uma convergência como essa que foi<br />

proposta pela comunidade. Procurei entender a lógica interna do discurso. Religião e ciência,<br />

nessa codificação religiosa, são dois elementos constituídos significativamente para o propósito<br />

de uma convergência. Meu interesse foi compreender essa lógica de convergência.<br />

Para se constituir enquanto tal, essa codificação religiosa que circula na comunidade<br />

muçulmana sunita carioca estabelece um conjunto de conexões entre descobertas científicas<br />

modernas, recentes e complexas, e o texto corânico, revelado por um homem do século VII da<br />

era cristã, iletrado e, em princípio, pouco viajado 1 . Essas conexões são apresentadas como<br />

provas de uma revelação divina ao profeta. Onisciente, senhor do mundo, Deus seria o único<br />

capaz de revelar aquilo que já domina a quem, nem de fato, nem de direito poderia saber – o<br />

1 Essa condição de pouco viajado do profeta Muhammad é alvo de questionamentos. Sua defesa, em geral, é feita<br />

por intelectuais muçulmanos que visam garantir a figura do profeta livre de acusações de falsidade, charlatanismo<br />

ou sincretismo. Garantir essa condição rude e pouco instruída do profeta é uma forma de garantir que sua<br />

pregação era, definitivamente, obra de Deus. No debate propriamente historiográfico e antropológico, há relatos<br />

de viagens de Muhammad. Paulo Pinto (2010b:39) indica, por exemplo, uma viagem de Muhammad à Síria, onde<br />

teria entrado em contato com o cristianismo nestoriano, o que poderia explicar a forte marcação do Islã na natureza<br />

humana de Jesus Cristo e demais profetas.<br />

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