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Baixar - Proppi - UFF

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Assim, nenhuma informação de que disponho permite compreender possíveis concepções<br />

femininas sobre meus interesses de pesquisa – que tipo de efeito o gênero teria sobre a<br />

concepção de ciência e razão. Assim, não obtive nenhum tipo de informação feminina a respeito<br />

das consequências sociais dessa codificação, o que poderia produzir informações interessantes,<br />

como a respeito das relações de autoridade – quem pode e quem fala sobre o Islã,<br />

ciência e afins; quem ‘sabe’ a religião –, juízos estéticos e morais. Meus dados não cobrem<br />

esse conjunto de questões.<br />

…<br />

A atividade de pesquisa ocorreu entre março e dezembro de 2010, com os dois últimos meses<br />

com ritmo menos intenso. Como já mencionado, o projeto da pesquisa envolvia levantamento<br />

de dados de cunho etnográfico, nos moldes consagrados da disciplina antropológica.<br />

Não estava interessado em produzir qualquer tipo de trabalho acadêmico cuja mirada<br />

analítica partisse de uma posição distante da realidade social em questão. Tratava-se precisamente<br />

de trabalhar partindo de uma imersão na realidade em questão que me permitisse compreensões<br />

robustas e detalhadas dos códigos culturais em operação na dinâmica social, o que<br />

significa não produzir formulações sobre a vida religiosa de uma comunidade carioca sem que<br />

estivesse em contato com tais códigos – e assim produzir um conhecimento mais bem fundamentado,<br />

mais rigoroso, com uma validade maior precisamente por respeitar epistemologicamente<br />

a realidade em questão. Esta, me parece, é a maior das utilidades da pesquisa etnográfica<br />

– produzir conhecimento acerca de uma realidade social partindo de, e embasado no discurso<br />

nativo, procurando reconstruí-lo em seus termos, desvendar sua teia de significados<br />

(Geertz 1973:cap.1)<br />

Nesse sentido, realizei observações e presenças nas atividades da comunidade, tomando<br />

como ponto de referência a mesquita do bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro.<br />

Priorizei o uso da ‘conversa’, do ‘diálogo’ com os membros da comunidade, muito<br />

mais do que entrevistas. Embora tenha realizado entrevistas, dei prioridade à informalidade e<br />

descontração do ‘bate-papo’, apostando na maior liberdade do discurso nativo nessas condições.<br />

Não distribui questionários em nenhuma circunstância. Evitei circular todo o tempo pela<br />

mesquita com um caderno de notas e uma caneta na mão. Produzi volumosas anotações durante<br />

as atividades de pesquisa, mas quase sempre durante as aulas de árabe e religião, o que<br />

era uma forma de mascarar o registro constante. A preocupação era naturalizar minha presença,<br />

não apenas esconder o que fazia. Evidentemente não tinha a pretensão de ‘não interferir na<br />

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