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erg 1996), que trata de um quadro particular de mobilização por parte de alguns intelectuais<br />

muçulmanos em um projeto de islamização da ciência moderna ocidental 52 . Stenberg desenvolve<br />

uma longa análise da produção textual e outras mídias de quatro intelectuais muçulmanos<br />

de origens diversas, mantendo entre si diversas formas de diálogo e divergência, cujos<br />

propósitos são não apenas mostrar a convergência entre pensamento islâmico e conhecimento<br />

científico, mas produzir uma crítica a essa ciência e a todo um conjunto de valores vinculados<br />

à epistemologia ocidental, e propor uma doutrina islâmica como alternativa para reforma –<br />

islamizar a ciência ocidental.<br />

O trabalho de Leif Stenberg é pertinente para a discussão que desenvolverei em todo<br />

este trabalho, mas meu caso em estudo diverge em algumas das características particulares.<br />

Em meu universo etnográfico há referências a um projeto de islamização do conhecimento<br />

científico, na crítica elaborada por um dos intelectuais da comunidade à epistemologia ocidental<br />

53 . De fato, este é um dos elementos que define o projeto de islamização analisado por<br />

Stenberg. No entanto, na comunidade carioca, não é essa proposta de islamização que define<br />

precisamente seu projeto. Seus esforços mais contundentes procuram mais apontar as convergências<br />

e afinidades do que reformas da ciência ocidental com modelo islâmico. Além disso,<br />

existem as críticas a essa ciência pela recusa do Islã como possível afim da razão. Mais do<br />

que islamizar, eles parecem reivindicar reconhecimento pela epistemologia ocidental da legitimidade<br />

da verdade científica que eles consideram estar contida no Alcorão. O tema coaduna<br />

com minhas preocupações com as configurações possíveis das relações entre religião e ciência<br />

na modernidade, a acomodação entre o discurso religioso e o conhecimento científico. A<br />

proposta de islamizar a ciência, que está, de fato, presente na comunidade carioca, ainda que<br />

em germe, decorre exatamente da forma como as relações entre Islã e ciência são constituídas.<br />

Sua abordagem é feita em material produzido por intelectuais que não tem formação<br />

religiosa formal, mas formação acadêmica de alto nível – todos doutores em grandes centros<br />

de pesquisa acadêmica mundial, com carreiras universitárias consolidadas. O que Stenberg<br />

procura mostrar é que a proposta desses intelectuais é inserir o Islã na modernidade, dar-lhe<br />

segurança ontológica 54 , enquanto mostram as formas pelas quais creem que o Islã pode contribuir<br />

com essa modernidade (Stenberg 1996:cap.7). O discurso sobre a islamização da ciência<br />

é uma arena para negociação das variadas definições do Islã apresentadas. Assim, há um oci-<br />

52 De acordo com a exposição de Stenberg, o uso do termo ‘western’ para se referir a essa ciência é nativo. Em<br />

meu universo etnográfico encontro uso correlato das expressões ‘ocidental’, ‘ocidente’ e equivalentes, com<br />

sentidos também correlatos.<br />

53 O argumento é que a epistemologia ocidental, por excluir a revelação divina como forma de conhecimento<br />

legítimo, cientificamente válido, é insuficiente e limitada. (Isbelle 2010).<br />

54 Giddens (1991:84ss).<br />

53

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