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Baixar - Proppi - UFF

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186, 218-263). Um mundo em pedaços, destroços, cheio de ‘pós’ – ‘modernidade’, ‘Guerra<br />

Fria’, ‘socialismo’ – e suas decepções, ainda assim constitui novas formas de variedades de<br />

experiência religiosa. As formas de vida religiosa, fragmentárias, erráticas, múltiplas ainda<br />

precisam articular-se aos fenômenos atuais, e recentemente isto tem significado aproximar-se<br />

da ciência. As variedades da experiência religiosa eram concebidas por William James como<br />

beliscões individuais do destino – uma forma de conceber a religião como fenômeno individual,<br />

de modo que a única forma de tornar a religião pública, ou coletiva, era falar a respeito<br />

desse leque de beliscões.<br />

A religião, ou a religiosidade, nas páginas e no mundo de James […] é uma questão<br />

radicalmente pessoal, uma profunda experiência particular, e subjetiva de um ‘estado<br />

de fé’ (como ele o chama), que resiste com inflexibilidade às pretensões do público,<br />

do social e do cotidiano ‘de serem os ditadores únicos e máximos daquilo em<br />

que podemos acreditar. 2 (Geertz 2000:169)<br />

Geertz aponta para uma situação geral contemporânea em que a religião, ainda que seja individual,<br />

jamais poderia ser tomada como privada, particular. A religião perpassa os mais variados<br />

espectros da vida, e cada vez mais. As identidades cada vez mais passam por critérios<br />

múltiplos, e a religião acaba por contribuir em muito para que essa variedade cresça largamente.<br />

Nos tempos atuais, em que a ciência vem ganhando cada vez mais espaço nos debates<br />

das agendas coletivas, nos mais variados níveis de atuação – desde a sociedade civil às políticas<br />

de Estado – a religião não poderia ficar de fora desse interesse pela ciência: é isso o que<br />

testemunha esse esforço coletivo de codificação religiosa racionalista. A religião não passa ao<br />

largo das discussões sobre a importância e função social da ciência no mundo contemporâneo.<br />

A racionalidade afeta diretamente a esfera religiosa, produzindo novas possibilidades<br />

de vivência de sistemas de crenças.<br />

Na parte inicial deste trabalho apresentei uma revisão de parte da literatura antropológica<br />

que significativamente abordava o tema das relações entre ciência, religião e racionalidade<br />

– a atualidade do debate aponta para a grandeza de suas consequências. Historicamente vimos<br />

a religião ser concebida como oposta à ciência e à racionalidade. A religião manifestava<br />

um estado inicial da intelecção humana, ultrapassado, superado, substituído pelas luzes da razão<br />

– e é aqui digna de nota ainda hoje essa imagem das luzes da razão, tão forte e poderosa<br />

em nosso imaginário desde a lumière francesa. Fosse a magia acionada para integrar o estado<br />

2 No original: “‘Religion’, or ‘religiousness,’ in his pages, and in his world—transcendentalist New England at<br />

the end of its run—is a radically personal matter, a private, subjective, deep experience “faith-state” (as he calls<br />

it), adamantly resistant to the growing claims of the public, the social, and the everyday “to be the sole and ultimate<br />

dictators of what we may believe.”<br />

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