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Baixar - Proppi - UFF

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projetos de algum modo particularistas, que, portanto, não poderão deixar de entrar em conflito<br />

com o discurso universalista. No meio do acalorado debate acerca das políticas de cotas<br />

raciais que ocorriam na sociedade brasileira à época, afirma Cavalcante Jr. (2008:35):<br />

É neste contexto de transição, em que há mudanças na classificação racial no Brasil<br />

a partir de políticas publicas, que analiso como são construídas identidades sociais<br />

que não são reconhecidas publicamente num espaço religioso entre negros brasileiros<br />

convertidos ao Islã e africanos muçulmanos que se depararam no Brasil com estes<br />

novos critérios que podem incluir ou excluí-los de fronteiras raciais e, consequentemente,<br />

do acesso legítimo a bens públicos.<br />

Assim, uma das tensões desse processo de construção é interna à própria definição da<br />

etnicidade negra e o quanto tal definição implica mobilização política e adesão a um projeto: a<br />

etnicização identitária no interior de uma comunidade religiosa que busca estabelecer uma<br />

concepção igualitária facilmente terá problemas para acomodar internamente um grupo mobilizando<br />

um projeto étnico. Eis como, segundo Cavalcante Jr., negros muçulmanos brasileiros,<br />

envolvidos no debate nacional a respeito das políticas de afirmação étnica não encontraram<br />

entre os negros africanos a ressonância de tais questões em um nível suficiente para pró-ativalos<br />

na causa. “[…], os africanos raras vezes se envolvem com movimentos identitários, pois<br />

não demonstram ter muito interesse em relação às questões raciais no Brasil.” (2008:35)<br />

O livro de Paulo Pinto sobre o Islã no mundo contemporâneo (Pinto 2010a) é importante<br />

por apresentar um quadro amplo e geral do Islã, com esboços de história geral da religião,<br />

do surgimento ao contexto contemporâneo, sem perder, no entanto, o frescor e a riqueza<br />

das análises etnograficamente informadas. O fato de o autor ter vasta experiência etnográfica<br />

com o Islã no Oriente Médio e na América Latina, e acionar tal experiência na composição da<br />

obra, faz com que configurações sociais distintas acerca do Islã – inevitáveis em se tratando<br />

de uma religião tão grande em número de adeptos e em localizações geográficas, fatores negligenciados<br />

por apresentações de cunho religioso-teológicos – sejam abordadas em suas significações<br />

e contradições. Apresentando dados históricos importantes sobre dilemas contemporâneos<br />

– como o surgimento do wahhabismo na península arábica e demais movimentos de<br />

reforma religiosa do Islã, assim como o problema entre israelenses e palestinos 3 no território<br />

de Israel-Palestina – o trabalho de Paulo Pinto culmina com análises importantes sobre cenários<br />

e realidades etnográficas contemporâneos, como no caso brasileiro. Do mesmo modo o<br />

3 Tão em voga hoje em dia, quando o governo israelense, na figura de Benjamin Netanyahu, responde com<br />

intensificação das construções residenciais para colonos judeus em territórios da Cisjordânia aos avanços da<br />

Autoridade Palestina em buscar, e conseguir, o reconhecimento do território palestino como Estado soberano na<br />

UNESCO, braço da ONU para ciência, educação e cultura.<br />

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