01.06.2014 Views

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

Baixar - Proppi - UFF

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

mente. Essa islamização depende de uma prévia objetificação, de uma depuração e resistematização<br />

para que os valores islâmicos, seus pressupostos epistemológicos possam ser<br />

reacomodados no sistema científico, cujo valor de verdade jamais é questionado enquanto<br />

inerente a ele. Eis porque é possível aderir à ciência sem aderir aos valores ocidentais, mas, ao<br />

contrário, por meio de uma crítica do estado geral da sociedade ocidental, direcionar crítica à<br />

ciência dotada desses valores.<br />

Acompanho em grande parte o conjunto de questões que se apresentam na obra de<br />

Stenberg, já que, da mesma forma, irei lidar com um conjunto de intelectuais que formulam<br />

uma objetificação do Islã: trata-se de investigar as formas de construção de um modelo que<br />

acomode consistentemente religião e ciência na modernidade. Por razões e meios diferentes,<br />

esta é uma questão para Ziauddin Sardar, Seyyed Hossein Nasr, Ismail Al-Faruqi e Maurice<br />

Bucaille, no universo de análise de Stenberg; e para os intelectuais da comunidade muçulmana<br />

sunita carioca, no meu caso. Consistentemente, eles demonstram sensibilidade para as possíveis<br />

relações e combinações entre religião e ciência, de modo que o contexto exige formas<br />

de negociação de novas possibilidades de relação.<br />

Outro ponto importante é que, ao formularem concepções do conhecimento religioso<br />

como superior, capaz de explicar completamente a realidade, e associarem este conhecimento<br />

religioso ao científico, a ciência passa a estar dotada de aspectos metafísicos – depois de objetificada<br />

e reinserida no sistema religioso islâmico – já que permite atuação em conjunto com<br />

Deus na realidade humana. Assim, o projeto de islamização é uma forma de reencantar tanto<br />

ciência quanto religião (Stenberg 1996:cap.7 57 ). Nesse quadro, a modernidade não é rejeitada<br />

como um todo, em uma espécie de neo-tradicionalismo. Somente se abandonam aqueles aspectos<br />

para os quais o projeto nativo busca dar novas soluções – em especial, o secularismo e<br />

um ateísmo corolário. Há tantas modernidades possíveis quanto interlocutores envolvidos,<br />

propondo novas soluções na exata medida em que definem tanto o que é a ‘modernidade’<br />

quanto seus méritos e deméritos. O quadro é de formação de uma multiplicidade de vozes e<br />

agentes atuantes no debate.<br />

Nesse sentido surge exatamente todo o aspecto político desse debate acerca da religião<br />

e ciência moderna formulado pelos intelectuais muçulmanos, no Brasil, Índia, E.U.A ou França.<br />

A própria possibilidade de que todos esses atores tomem parte ativa em um debate que,<br />

por sua vez, adquire caráter global, depende de que novas formas de autoridade religiosa estejam<br />

surgindo – o poder de falar e interpretar o Islã está amplamente flexibilizado. Embora<br />

57 Cf. Weber (2010) sobre o desencantamento.<br />

55

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!