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Baixar - Proppi - UFF

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da especificamente pela oralidade da exposição nas aulas. Poder-se-ia afirmar um momento<br />

de crise na ‘autoridade carismática’ do professor. No entanto, sua atitude de refletir sobre a<br />

honestidade moral e a certeza epistemológica na transação de conhecimento ressalta o esforço,<br />

o estudo, reconhecendo as limitações humanas. Assim, há uma moralização da relação<br />

com o conhecimento e sua transmissão, onde categorias como erro e pecado aparecem juntas<br />

para qualificar uma transmissão de conhecimento – humildade, honestidade. O tipo de exigência<br />

cognitiva que está implicada nesse quadro – mais uma vez, correção, certeza, verificação,<br />

estudo, dedicação – também merece destaque. Reconhecer o erro, ou, nesse caso em especial,<br />

reconhecer que uma determinada resposta não pode ser dada é um dever moral e uma postura<br />

pedagógica correta, o que, em último caso está ligado à continuidade que venho procurando<br />

demonstrar entre um determinado sistema de conhecimento e a forma pela qual esse conhecimento<br />

se transmite.<br />

Em resumo, estou propondo aqui que, ao analisarmos a estrutura da transmissão do conhecimento<br />

nas aulas de religião, iremos encontrar as mesmas configurações a respeito da<br />

continuidade entre conteúdo e forma que venho apontando em outras instâncias. Se a codificação<br />

religiosa textual apresenta-se de modo a enfatizar a racionalidade tanto da mensagem<br />

divina – na sua afinidade com descobertas científicas – quanto da forma de transmissão – sua<br />

clareza e facilidade – no momento em que essa textualidade é submetida à dinâmica oral da<br />

aula, surgem conflitos e situações não controladas. As formas de solucionar esses conflitos<br />

passam novamente pela retomada dos atributos racionais e morais nos canais de comunicação.<br />

3.3.4 – Árabe, língua divina, sagrada<br />

Ao abordar as aulas de árabe no capítulo dois, afirmei que sua organização e pedagogia independiam<br />

de uma predicação religiosa. Idriss era um professor de línguas. Sua postura na aula<br />

era objetiva, clara, direta, pedagógica. Sua função era ensinar. Mas a própria existência do<br />

curso de língua árabe já indica a importância do idioma.<br />

As referências ao idioma e sua importância são tão frequentes e abundantes que é difícil<br />

organizar sua manifestação. O idioma árabe é entendido como de origem divina, o que o<br />

torna sagrado. É a língua na qual o Alcorão foi revelado. Assim, Deus se manifestou ao homem<br />

pela última vez para revelar um livro sagrado no idioma árabe. Essa qualidade não pode,<br />

portanto, ser ignorada. Como toda tradução é uma traição, uma interpretação do autor da tradução,<br />

sempre há perda e a verdade não comporta perda. Eis então que o texto do Alcorão só<br />

o é legitimamente, completamente, verdadeiramente quando manifesto tal como o fez Deus,<br />

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