Baixar - Proppi - UFF
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lógicos, tendo os primeiros a proeminência.<br />
Fundamentalmente Malinowski trata mais uma vez de repensar as relações entre magia,<br />
ciência e religião em suas mútuas relações e no que se refere à racionalidade de cada uma<br />
dessas esferas da vida. Funcionalmente magia e religião operam em dois níveis, psicológico e<br />
sociológico. Malinowski também aciona no contexto das definições desses elementos a separação<br />
fundamental entre sagrado e profano, mas a forma dessa definição o impede de corroborar<br />
da continuidade que Durkheim estabelece entre religião e ciência, de um lado, assim como<br />
a total separação entre religião e magia, de outro. Magia e religião estão aqui mais próximas<br />
do que em Durkheim porque ambas referem-se à esfera sagrada da vida, ao passo que a ciência<br />
se define por sua condição profana. Por sagrado entende Malinowski todo ato e observação<br />
que estejam guardados por reverência e medo, temor e evitação, envolvidos por proibição,<br />
e que se refiram ao sobrenatural, à forças suprassensíveis, além de envolver, em alguma medida,<br />
um elemento ético. O profano é tudo aquilo que envolve as artes e técnicas, por meio de<br />
uma relação particular entre meios e fins na busca por resultados. É digno de nota que a racionalidade<br />
é o elemento que está presente nas duas esferas da vida, conectando-as, e aproximando<br />
a magia da ciência por meio de suas racionalidades particulares no que se refere ao<br />
cálculo e sucesso dos objetivos. Frazer aparece muito claramente no pensamento de Malinowski<br />
nesse momento, dotando magia e ciência de razão, deixando a religião de fora.<br />
Tambiah define a noção malinowskiana de ciência como simples e generosa a um só<br />
tempo (Tambiah 1990:67-8), uma vez que no seu modelo qualquer definição de ciência insere<br />
o conjunto de conhecimentos técnicos e artísticos trobriandeses. Sua posição de diferença em<br />
relação à Lévy-Bruhl é clara na seguinte passagem (Malinowski 1955:26):<br />
Em primeiro lugar, possui o selvagem alguma perspectiva racional, algum domínio<br />
racional de seu entorno, ou é ele, como Sr Lévy-Bruhl e sua escola sustenta, inteiramente<br />
‘místico’? A resposta será que toda comunidade primitiva está de posse de<br />
notável provisão de conhecimentos, baseados na experiência e modelado pela razão<br />
46 . (ênfases minhas).<br />
Mas a definição de Malinowski só pode ser generosa por ser um tanto indeterminada.<br />
Assim, ele termina por não ser tão taxativo ao afirmar existir ‘ciência primitiva’ exatamente<br />
por considerar a relatividade da noção que se use em cada contexto 47 . Assim, termina por<br />
46 No original: “First, has the savage any rational outlook, any rational mastery of his surroundings, or is he, as<br />
M. Lévy-Bruhl and his school maintain, entirely ‘mystical’? The answer will be that every primitive community<br />
is in possession of a considerable store of knowledge, based on experience and fashioned by reason.”<br />
47 “Podemos considerar o conhecimento primitivo, o qual, como apontamos, é igualmente empírico e racional,<br />
como um estágio rudimentar de ciência, ou ele não é de modo algum relacionado com a ciência? Se por ciência<br />
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