Baixar - Proppi - UFF
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samento reflexivo, crítica, investigação e exames críticos são atividades intelectuais que fazem<br />
parte do pensamento islâmico desde seu início. Correntes de racionalismo no interior do<br />
Islã surgem em meio a reflexões sobre a natureza do Alcorão, e levam a considerações sobre a<br />
própria forma da atividade intelectual na resposta para o conjunto de perguntas – questão metodológica:<br />
Tais questões estão implícitas no Corão, e se apresentavam a qualquer um que o levasse<br />
a sério, mas o pensamento sistemático sobre elas envolvia não apenas um texto<br />
a considerar, mas um método de fazer isso: uma crença em que se podia atingir o<br />
conhecimento pela razão humana, trabalhando segundo certas regras. Essa crença<br />
na razão corretamente orientada tinha formado a vida intelectual nas regiões por onde<br />
o Islã se espalhou, incluindo o Hedjaz […]. (Hourani 2006:96, os destaques são<br />
meus)<br />
Essa tradição viva do pensamento e da ciência helenista no interior do pensamento islâmico<br />
manifesta-se no trabalho árduo de tradução das obras gregas para o árabe, que começa<br />
a partir de fins do século II da civilização islâmica, com forte estímulo dos califas abássidas.<br />
Praticamente toda a cultura grega foi assimilada. Aristóteles e Platão serão objetos de constantes<br />
e refinadas reflexões. O califado abássida (séc. VIII a XIII d.C) unifica terras do Oceano<br />
Índico, Mediterrâneo e as tradições gregas, persas e indianas. De todo modo, a ciência e a<br />
filosofia grega foram amplamente incorporadas na cultura e sociedade islâmica, trazendo consigo<br />
a centralidade da razão na atividade reflexiva.<br />
Os diálogos e dificuldades de conciliação entre Platão, Aristóteles e o Alcorão não foram<br />
sempre facilmente resolvidas. Por isto mesmo, não deixou, a tradição islâmica, de produzir<br />
posições críticas e mesmo ateias, algo materialistas e até mesmo antirreligiosas. Em especial<br />
neste caso a figura de Abu Bakr al-Razi (865-925d.C), que afirmou só a razão poder ser<br />
capaz de proporcionar conhecimento correto, a filosofia sendo uma estrada livre e aberta. Al-<br />
Razi chega mesmo a negar a verdade das revelações e acusa as religiões de serem perigosas<br />
(Hourani 2006:114-5).<br />
Esta posição, no entanto, não foi a via de regra no interior do pensamento islâmico –<br />
que não poderia permanecer como religião mantendo-se em acordo com as afirmações de Al-<br />
Razi. Al-Farabi (morto em 950d.C) é apontado por Hourani como assumindo talvez a forma<br />
mais típica da posição racionalista muçulmana: a filosofia pode alcançar a verdade pela razão.<br />
Mas nem todos os seres humanos eram filósofos, já que a maioria das pessoas somente poderia<br />
alcançar a verdade por intermédio de símbolos. A religião aqui é um sistema simbólico.<br />
Diferentes sistemas simbólicos, diferentes religiões. De acordo com a formulação de<br />
Al-Farabi, a religião profética é uma exposição da verdade por meio de símbolos inteligíveis,<br />
sendo o profeta precisamente aquele que, além do intelecto, faz uso da imaginação para a<br />
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