Baixar - Proppi - UFF
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seu discurso racional e técnico de domínio da natureza tomar-lhe-ia o lugar, muito mais por<br />
demonstrar a falsidade das religiões do que por propor efetivamente algo em substitutivo. É<br />
sabido o lugar que Weber ocupa nesse conjunto de reflexões – afirmava claramente estar a<br />
religião perdendo seu sentido na vida moderna europeia capitalista. É sabido também que a<br />
posição de Weber nesse debate não era de conforto, mas de lamento, ao que se pode fazer<br />
lembrar os sentidos da expressão ‘gaiola de ferro’ da racionalidade e ‘desencantamento do<br />
mundo’. Weber, espécie de precursor do vindouro existencialismo sartreano, decreta, mas<br />
lamenta (Weber 2010:30ss)<br />
A discussão weberiana segue por mostrar como a religião é um motor de racionalização<br />
da vida no mundo moderno, seja na própria organização do discurso religioso, na forma<br />
da sistematização teológica; seja em sua influência na esfera profana da vida. A própria definição<br />
de racionalidade em Weber já aponta para a complexidade e operacionalidade de seu<br />
pensamento, uma vez que ganha variados matizes e sentidos de acordo com as realidades e<br />
circunstâncias em que ocorre. Na esfera econômica, Weber refere-se à racionalidade como um<br />
cálculo entre meios e fins com vistas à eficácia/eficiência econômica (Weber 1944:51ss). Racionalidade,<br />
de um modo geral, implica organização e sistematicidade, coerência, cálculo,<br />
eficácia. Uma ação racional terá por fundamento a busca por esse conjunto de atributos. Como<br />
apontado, na economia implica cálculo e adequação, na religião implica sistematização do<br />
discurso e do conjunto de crenças de acordo com princípios morais (valores) e objetivos (intra<br />
e extra)mundanos. Na religião, o discurso racional concebe uma ordem para o mundo, finalidades<br />
desejáveis e meios de obtenção. Em todas essas esferas da realidade, o agente da racionalização<br />
será fundamental.<br />
Weber concebe a racionalização do mundo moderno – em suas diversas esferas, jurídica,<br />
econômica, científica, burocrática – como uma força em contraposição à tradição, ao<br />
passado legitimado pelo tempo. Nesse sentido, dois personagens se opõem: o profeta, cuja<br />
dominação sobre sua comunidade de fiéis e seguidores é de ordem carismática, fundada em<br />
qualidades que não podem ser facilmente descritas, capturadas pelo discurso racional – nesse<br />
sentido, uma dominação irracional, por ser assistemática e não coerente; e o sacerdote, cuja<br />
dominação e legitimidade sobre um conjunto de seguidores, fiéis, sua igreja, está fundada em<br />
uma coerência e sistematicidade do discurso religioso, o que significa dizer, uma dominação<br />
racional, já que suas qualidades e performances enquanto líder não apenas são coerentes e<br />
organizadas no discurso e em sua prática, como dependem dessas qualidades para que se<br />
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