Baixar - Proppi - UFF
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Fé’, entre outros, o que mostra sua integração nas atividades da sociedade civil brasileira.<br />
A respeito dessa marcação da presença islâmica na realidade brasileira, e em estreita<br />
conexão com a repercussão acerca do Islã na conjuntura dos atentados terroristas – que estão<br />
prestes a completar 10 anos, quando o tema volta à tona nos noticiários e na sociedade civil de<br />
um modo geral –, o trabalho de John Tofik Karam apresenta um quadro bastante interessante<br />
no contexto brasileiro, ao mostrar como a telenovela “O Clone”, produzida e transmitida pela<br />
Rede Globo entre 2001 e 2002, durante toda a repercussão dos eventos em Nova Iorque e que<br />
abordava o Islã e a comunidade muçulmana carioca como parte de sua trama principal, foi<br />
responsável, em grande medida, pela manutenção de uma imagem positiva do Islã e dos muçulmanos<br />
na realidade nacional (Karam 2007:33-37). Também a esse respeito, o professor<br />
Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto (Pinto 2010b:209) afirma, acerca da mudança de condição<br />
da comunidade muçulmana no Brasil na década de 2000, que:<br />
Este quadro mudou radicalmente a partir de 2001, quando o Islã e os muçulmanos<br />
ganharam uma maior visibilidade na sociedade brasileira. O evento<br />
que marcou essa mudança não foi tanto o 11 de Setembro, mas a novela O<br />
Clone, que possuía entre os personagens principais os membros de uma família<br />
muçulmana no Rio de Janeiro. Apesar das incorreções factuais e dos estereótipos<br />
orientalistas que povoavam a trama fantasiosa, a novela introduziu<br />
no imaginário cultural brasileiro imagens bastante positivas dos muçulmanos<br />
como pessoas alegres e devotadas à família.<br />
Embora me pareça que o papel do 11 de setembro nessa mudança de posição do Islã<br />
na sociedade brasileira seja maior do que faz parecer a análise do professor Paulo Gabriel<br />
Hilu da Rocha Pinto, o papel da novela no aumento do ‘índice de visibilidade’ é dificilmente<br />
questionável. Professor Paulo Gabriel salienta que os atentados do 11 de setembro não monopolizaram<br />
os discursos sobre os muçulmanos no Brasil (2010b:209) precisamente pela transmissão<br />
da novela. Mas Karam (2007:33) menciona a importância que a novela passa a ter<br />
para a comunidade árabe e muçulmana brasileira – o senso comum brasileiro não faz a devida<br />
distinção entre as duas formas de identidade, étnica e religiosa, nesse caso em particular –<br />
justamente por conta da imagem positiva que veicula, em meio a temores de uma possível<br />
estigmatização e surgimento de ódios e preconceitos mais pronunciados:<br />
Como uma espécie de alerta contra qualquer previsão mais precipitada num<br />
mundo pós-11 de setembro, Leila disse: “Eu estava realmente preocupada,<br />
mas aí começou a novela.” Já programada para estrear na Globo em setembro<br />
de 2001, a novela O Clone entrou no ar na data marcada, mas num contexto<br />
que os patrocinadores, o elenco e os telespectadores nunca teriam imaginado.<br />
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