Baixar - Proppi - UFF
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tão diretamente vinculados a significados que o métier acadêmico aciona na comunidade muçulmana<br />
carioca. Nesse sentido, o professor Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto não só me<br />
introduziu na comunidade muçulmana sunita carioca, mas o fez permitindo que minha imagem,<br />
associada a dele, ganhasse em respeito e boa disposição junto àquelas pessoas que acabavam<br />
de me conhecer. Os desdobramentos dessa entrada positiva são longos.<br />
Antes de prosseguir, é importante esclarecer que não estou sugerindo que a comunidade<br />
pesquisada apresente, fora dessas condições especiais de que desfrutei, algum tipo de resistência<br />
a ser pesquisada pelos que vem do ‘fora’. A situação geral que se apresenta sugere<br />
mesmo certa disposição e boa vontade para com visitantes, curiosos, interessados, simpatizantes.<br />
Há um claro interesse em receber não muçulmanos em diversas circunstâncias, e por uma<br />
série de razões. Valoriza-se em geral a presença de não muçulmanos no dia-dia da comunidade<br />
como a possibilidade de tornar conhecido o ‘verdadeiro Islã’, em geral defendido como<br />
completamente distinto dos estereótipos preconceituosos publicizados pela mídia em geral;<br />
essa presença é vista também como índice da boa disposição da parte dos visitantes para conhecer<br />
mais detalhadamente a religião, indo além dos preconceitos gerais. Além disso, há<br />
também no discurso geral da comunidade inúmeras justificativas para essa presença de visitantes<br />
atreladas à própria estrutura da vida religiosa comunitária, como a recomendação corânica<br />
de que nas refeições coletivas durante o mês do Ramadan a comunidade convide nãomuçulmanos<br />
para participar do congraçamento.<br />
Isto, no entanto, não exclui a possibilidade de conflitos, rejeições. O caso mais emblemático<br />
nesse sentido que envolve a própria comunidade carioca é o de Cláudio Cavalcante<br />
Jr., impedido de continuar seu trabalho de campo junto à comunidade na Mesquita da Luz em<br />
meados de 2007 4 (Cavalcante Jr. 2008). O caso é complexo e multifacetado, envolve circunstâncias<br />
de conflito interno na comunidade, e o próprio antropólogo discute com mais detalhes<br />
os fatores envolvidos que culminaram na sua expulsão da comunidade (Cavalcante Jr.<br />
2008:12ss). Cavalcante reconhece seu relacionamento mais intenso com algumas das lideranças<br />
e relativo afastamento de outras figuras de posição como um dos elementos que favoreceram<br />
o conflito. Mas a causa central da controvérsia na qual se envolveu foi o fortalecimento<br />
de relações com ex-membros da comunidade expulsos sob a acusação de faccionalismo, interpretação<br />
errônea da religião e tentativa de desintegrar a harmonia da comunidade sunita<br />
carioca – entre eles, muçulmanos xiitas e envolvidos com movimentos nacionalistas alinhados<br />
à extrema direita, como o MV-Brasil. Assim, equívocos e imprudências da parte do antropó-<br />
4 Sua pesquisa destinava-se, assim como esta, à redação de dissertação de mestrado, e era orientada pelo mesmo<br />
professor, no PPGA-<strong>UFF</strong>.<br />
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