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corão, conceito islâmico de Deus, o caráter do profeta, sistema moral e político, estereótipos<br />
acerca do Islã. A estrutura geral é a mesma. O número três, com o título “O que se diz sobre o<br />
Islã” expõe todo o sistema religioso, lamenta que o Ocidente tenha escolhido o Islã por rival,<br />
menciona uma lista de sábios europeus que bendisseram o Islã, e cita Edward Montet 6 : “O<br />
Islam é a religião essencialmente racionalista no sentido mais amplo desse termo etimológica<br />
e historicamente considerado. A definição do racionalismo, como sendo um sistema que baseia<br />
as crenças religiosas em princípios fornecidos pela razão, aplica-se exatamente a ele.”<br />
Mais do que considerar a pertinência das afirmações, é o seu uso estratégico, como a mostrar<br />
que o Islã é uma religião longe do fanatismo, da irracionalidade. O texto conclui: “Este é o<br />
Islam, uma religião racional e de paz...” (ênfases minhas)<br />
O panfleto número 4, “O conceito de Deus no Islam”, por exemplo, propõe em uma<br />
organização polissilogística a necessidade e unicidade de Deus.<br />
O criador [postulado] deve ser de uma natureza diferente das coisas criadas porque,<br />
[condição] se Ele é da mesma natureza que elas, [afirmação] Ele será temporal e,<br />
[conclusão] portanto, precisará de um criador. Disso se segue [inferência] que nada é<br />
como Ele. Alem disso, [segunda condição] se o Criador não é temporal, então [necessidade]<br />
Ele deve ser eterno. Se Ele é eterno, entretanto, [inferência] Ele não pode<br />
ser 7 uma causa, e se nada O trouxe à existência, [inferência sob condição] nada fora<br />
Dele faz com que Ele continue a existir, [conclusão] o que significa que Ele é autossuficiente.<br />
E [terceira condição] se ele não depende de nada para a continuação de<br />
Sua própria existência, então [inferência] essa existência não pode ter fim e [conclusão],<br />
portanto, o Criador é eterno.<br />
Considero que esse tipo de estrutura na qual o discurso acerca do que seja o Islã é a-<br />
presentado fundamental para entendermos as associações diretas que existem entre o Islã como<br />
religião revelada e a racionalidade e ciência moderna. As verdades religiosas são esquematizadas<br />
em estruturas de argumentação lógica, com inferências e deduções necessárias.<br />
Essa necessidade lógica presente na verdade do Islã aponta para o caráter divino de sua revelação,<br />
onde verdade e necessidade lógica parecem decorrer da própria natureza de Deus. No<br />
panfleto número 7 da série, “O que é um profeta no Islã”, uma das características condicionantes<br />
para que se defina um profeta como legítimo é que seu conceito de Deus e as ideias<br />
sobre o mundo e os entes nele habitantes sejam claras e bem definidas. Portanto, “a crença em<br />
6 A grafia anglicizada é do original. “A propaganda Cristã e os seus adversários muçulmanos” Paris, 1980, é a<br />
referência no texto, com o título traduzido para o português, tal como estou indicando. Édouard Montet,<br />
mencione-se, é um famoso orientalista, autor de traduções do Alcorão para o francês.<br />
7 Parece haver erro de tipografia, onde ‘ser’ parece estar no lugar de ‘ter’, o que dá sentido à frase.<br />
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