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Baixar - Proppi - UFF

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elementos de irracionalidade e mistério, como no caso da Santíssima Trindade, que, admitido<br />

pela própria Igreja, torna não-problemático o ponto central do argumento de Sami – ele não<br />

aponta uma característica recusada pela Igreja Católica, mas, exatamente, ela mesma admite<br />

aquilo que se condena: há mistério na doutrina católica, o que, por um desdobramento de sentidos,<br />

permite que a crítica conclua por sua irracionalidade. Somente nesse desdobramento de<br />

sentidos, portanto, surgiria a possibilidade de divergência – restaria saber, então, se uma doutrina<br />

religiosa pode estar livre de mistério; se esse mistério é necessariamente irracional; ou,<br />

em último caso, se a irracionalidade é incompatível com a religião. Na codificação racionalista<br />

da comunidade muçulmana sunita carioca, o mistério – e desdobrando-se os sentidos –, o<br />

místico, o irracional não são compatíveis, como já demonstrado.<br />

Mas, assim como a doutrina católica admite a presença legítima do mistério, segundo<br />

Sami Isbelle, ele também o faz, embora nesse caso o desdobramento de significados do mistério<br />

adquira contornos diferenciados. Há mistério na presença dos caracteres isolados no texto<br />

corânico, mas a legitimidade de sua presença não passa por sua simples aceitação, mas por<br />

sua racionalização. Mais ainda: a ocultação de sentidos também é admitida. A explicação de<br />

Sami não é a de afirmar não haver sentido para aquela presença, mas a de que não se deve<br />

buscar por ele além daquilo que é imediatamente explicado pela lógica e pela razão. O significado<br />

das letras iniciais, naquilo que o entendimento humano é capaz de compreender, limitase<br />

a regrar a leitura do texto. Ir além disso, como apontado, é adentrar a esfera do sentido místico.<br />

Ao fim e ao cabo, a religião combina com a razão e com a lógica.<br />

…<br />

Munzer Isbelle desenvolve ainda mais essas relações entre a religião e a ciência em uma publicação<br />

dedicada exclusivamente ao tema. Em “A revelação e a ciência” (Isbelle 2010) Munzer<br />

expõe de um ponto de vista histórico e filosófico a epistemologia islâmica. De acordo com<br />

o autor, o Islã tem uma teoria do conhecimento detalhada, precisa, bem elaborada, e essa teoria<br />

do conhecimento é superior à epistemologia ‘ocidental’ porque não descarta a revelação<br />

divina como fonte legítima de conhecimento, postura típica do pensamento europeu, para a<br />

qual propõe uma explicação histórica.<br />

O livro conta com uma apresentação de Ahmad Saleh Mahairi, ex-imam no Rio e há<br />

25 anos na supervisão dos sheikhs sauditas no Brasil, segundo as informações da própria a-<br />

presentação. Outra apresentação do livro de Munzer é assinada por Sheikh Mohsin Bin Mussa<br />

Alhassani, PhD em teologia e supervisor dos sheikhs enviados pela Liga Mundial Islâmica no<br />

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