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da Escola Sociológica Francesa mantinham relações especiais 34 . É significativo o fato de que<br />

a obra de maturidade de Durkheim esteja dedicada à antropologia da religião, o que nos permite<br />

refletir sobre o quão importante o fenômeno religioso irá se mostrar no pensando do autor<br />

francês. No clássico “As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico australiano”<br />

de 1912 (Durkheim 1996), Durkheim desenvolve uma longa análise do fenômeno religioso.<br />

Durkheim ainda pode ser enquadrado no modelo evolucionista, mas suas reflexões apontam<br />

para grandes modificações no debate da época. Assim, a religião, que em Tylor e em Frazer<br />

será definida eminentemente como um fenômeno marcado pela negatividade, pela proximidade<br />

ou flagrância do erro, ganha em Durkheim positividade. Recusa qualquer definição da<br />

religião que implique em algum elemento de falsidade, numa proposição que já se tornou<br />

mais do que conhecida. “Com efeito, é um postulado essencial da sociologia que uma instituição<br />

humana não pode repousar sobre o erro e a mentira, caso contrário não pode durar. Se não<br />

estivesse fundada na natureza das coisas, ela teria encontrado nas coisas resistências insuperáveis.”<br />

(Durkheim 1996:VI-VII).<br />

Para Durkheim, estudar as religiões dos povos aborígenes australianos era uma questão<br />

de método. Tratava-se de definir o fenômeno religioso em suas características mais simples,<br />

de modo que todos os componentes dessa definição essencial estariam presentes em todas<br />

as formas posteriores, que a esses elementos básicos adicionariam tudo, mas nada poderiam<br />

retirar. Estudar a religião mais simples significava estudar a religião dos povos mais<br />

simples até o momento encontrados, e esta posição era ocupada pela população australiana, de<br />

acordo com os princípios científicos da época. Como os fatos naquela realidade são mais simples,<br />

as relações entre os fatos e as explicações também o são, de modo que a religiões primitivas<br />

permitem facilitar a explanação científica causal. Durkheim desenvolve toda uma crítica<br />

das definições já tentadas do que seria a religião – crença em seres sobrenaturais, em divindades<br />

– mas termina por mostrar que a religião é um todo formado por partes, crenças e ritos,<br />

estados de opinião e modos de pensamento, que se articulam na medida em que o rito depende<br />

da crença para se realizar, celebrando-a. A crença básica da religião, no modelo durkheimiano,<br />

é a separação entre duas ordens de realidade, dois gêneros distintos, inconciliáveis, sagrado<br />

e profano. Estas duas ordens da realidade se definem mutuamente pela total heterogeneidade<br />

e por uma relação de hierarquia, estando o sagrado acima do profano 35 .<br />

Durkheim não se furta a definir outro elemento que seguia quase sempre a religião<br />

34 Ver Mauss (2003 [1950]: 319-325).<br />

35 O ritual do sacrifício funciona exatamente na transposição de pessoas e coisas de uma ordem para outra, como<br />

mostraram Mauss e Hubert (2005 [1899]).<br />

35

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