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Figura 6: Mural da mesquita. Foto de março de 2011.<br />

Figura 6: Mural da mesquita. Foto de março de 2011.<br />

Na região média do salão<br />

encontramos também um<br />

mural de cortiça sob apoio móvel,<br />

onde uma miríade cambiante<br />

de informações é dependurada.<br />

Ali registrei desde matérias<br />

de jornais sobre a comunidade<br />

ou o Islã em geral e temas<br />

relacionados, até currículos<br />

profissionais de membros frequentadores<br />

em busca de emprego.<br />

Em uma tarde de sábado de maio de 2010, registrei os seguintes elementos: quatro matérias<br />

de jornal, duas sobre a comunidade em especial, duas também sobre outras denominações<br />

religiosas; lista dos horários de entrada e término do intervalo para as cinco orações diárias<br />

de todo o mês de maio 16 ; avisos sobre a venda de artigos no bazar de sexta-feira e o lembrete<br />

de que o dinheiro arrecadado será utilizado nas obras da mesquita; o cartão de um médico<br />

judeu que realiza cirurgias de circuncisão ‘à moda islâmica, totalmente indolor’ – diz o<br />

cartão. Por fim, um símbolo proibindo o uso de máquinas fotográficas e filmadoras, com um<br />

recado ao lado avisando que não é permitido fotografar ou filmar dentro da mesquita sem a<br />

devida autorização dos dirigentes.<br />

Essas divisões, como mencionei, não são conscientemente formuladas pelos frequentadores,<br />

pois jamais vi ou ouvi qualquer referência a ela. Mas os usos do espaço permitem<br />

essa esquematização 17 . Sobrepondo-se a essa divisão tripartite, no entanto, há outra, dual,<br />

fundada no gênero 18 , que se efetiva em todo momento de oração em que há homens e mulhe-<br />

16 Essa lista é retirada de uma página eletrônica onde se consulta uma variedade de assuntos sobre o Islã, mas em<br />

especial o horário das orações. Cf. www.islamicfinder.org/<br />

17 A respeito dessa esquematização não consciente, mas operacional do espaço, ver a descrição do espaço interno<br />

e externo da casa Kabyle (Bourdieu 1972:59, meus destaques): “Não é por acaso que somente a orientação da<br />

porta é explicitamente prescrita, enquanto a organização do espaço interior jamais é conscientemente<br />

compreendida e menos ainda desejada enquanto tal pelos sujeitos.”. No original: « C’est ne pás par hasard que<br />

seule l’orientation de la porte est explicitement prescrite, l’organisation intérieure de l’espace n’étant jamais<br />

consciemment appréhendée et moins encore voulue comme telle par les sujets. ».<br />

18 O espaço da casa kabyle é mais rico e complexo em seu simbolismo do que o espaço interno da mesquita da<br />

luz, apresentada aqui. A descrição que Pierre Bourdieu faz da casa kabyle indica uma construção do espaço<br />

interno e externo plena de simbolismos cruzados, simetrias, oposições e inversões dos elementos e significados.<br />

Uma das oposições fundamentais, no entanto, é a de gênero, masculino e feminino, de modo que mais um<br />

elemento de semelhança aparece, além da organização inconsciente desses esquemas organizacionais e<br />

simbólicos, indicada acima, entre a casa berbere e a mesquita sunita carioca. Destaque-se, no entanto, que os<br />

desdobramentos simbólicos na descrição de Bourdieu são mais extensos e sem paralelo na mesquita carioca. As<br />

oposições correlatas, tal como Bourdieu as apresenta, não entram em jogo na descrição que faço aqui. “Assim, a<br />

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