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Baixar - Proppi - UFF

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que as crianças gozam no salão de oração. É ela que torna agramática a atitude de controle<br />

constante e rígido da parte dos pais. No entanto, não exclui a necessidade e a real existência<br />

de padrões de comportamento e limites aos quais as crianças devem atender, seja pelo amadurecimento<br />

com a idade, seja pela intervenção dos pais. Existem mecanismos de socialização<br />

que atuam na criança e sua liberdade, seja diretamente nela, seja pela reprovação do comportamento<br />

dos pais.<br />

Esta condição da criança no espaço da mesquita é liminar (Turner 2005:137ss). A criança<br />

se encontra em um espaço categórico crítico, marginal, entre posições complexas, e tão<br />

dúbia quanto sua posição é o tratamento que tal posição exige. A ela deve ser transmitido o<br />

conjunto de regras, disposições, habitus (Bourdieu 2004) que regem o comportamento de todo<br />

frequentador do espaço religioso da mesquita. Mas até o início da adolescência a criança encontra-se<br />

nessa posição na qual o dilema entre a necessidade<br />

de transmissão das regras comuns e o reconhecimento<br />

de sua condição imatura se apresenta. Os limites<br />

devem ser apresentados e marcados, mas as formas dessa<br />

marcação são distintas, por exemplo, de um adulto presente<br />

no espaço, ignorante das regras – um visitante como<br />

eu, um novo membro da comunidade.<br />

Sobre os limites existentes, fundamentalmente dizem<br />

respeito às relações com outras crianças, já que brigas<br />

e desentendimentos são rigorosamente reprimidos –<br />

jamais como atitude incômoda à oração, mas como reprovável<br />

para a formação moral da criança. Além disso, há claramente uma avaliação da idade<br />

da criança com o seu comportamento e a liberdade de que dispõe. Espera-se mais de uma<br />

criança de mais idade, seja para se comportar melhor, seja para vigiar outras crianças menores.<br />

Figura 7: detalhe da criança mimetizando o chamamento<br />

para a oração realizado por um fiel.<br />

Em uma oração de sexta-feira, particularmente cheia, presenciei uma manifestação de<br />

incômodo frente ao comportamento de um menino. Não consegui identificar o pai da criança.<br />

De todo modo, o menino aparentava ter pelo menos seis anos – o que o habilita a obedecer ao<br />

menos ordens simples –, gritava, corria, pulava, empurrava adultos e, principalmente, agitava<br />

outras crianças. Quando o sermão foi iniciado pelo imam, estabeleceu-se silêncio em todo o<br />

salão, quebrado somente pelos berros e risos isolados do menino. Seu comportamento chamava<br />

a atenção e logo começaram trocas de olhares repreensivos e um sutil balbuciar recriminatório.<br />

Ao que parece, esperava-se que, nesse caso, o pai tomasse alguma atitude, o que<br />

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