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Baixar - Proppi - UFF

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corredores, no salão, conversando entre si, explicando a religião para novos adeptos ou curiosos,<br />

como sói acontecer aos antropólogos. Mas pretendo aqui fazer uma distinção entre dois<br />

níveis e pensar a codificação religiosa emitida pelos canais formais aventados em uma chave,<br />

um nível, e em outro nível, perceber como uma circulação da mensagem se dá.<br />

Detalhe importante aqui é o fato de nenhum desses quatro elementos ter formação religiosa<br />

formal. Tanto Sami como Munzer estudaram na Universidade Islâmica de Medina,<br />

Arábia Saudita, mas tratava-se de cursos de língua árabe oferecidos para iniciantes. O curso<br />

dura dois anos, por 4 módulos, conta com avançado conteúdo religioso, de onde, evidentemente<br />

eles conseguem o domínio e a legitimidade para falar sobre o Islã. Este, no entanto, não<br />

é um curso superior em estudos de religião islâmica. Ambos tem formação superior, mas no<br />

Brasil. Fernando é jornalista formado e Idriss tem formação em física no Burquina Fasso,<br />

sendo o seu conhecimento profundo produto de esforço de praticante. Isto não significa, obviamente,<br />

que estejam fora de uma rede de interpretação do Islã. Como já mencionado por Paulo<br />

Pinto (2005:233), Gisele Chagas (2006:61) e Cláudio Cavalcante Jr. (2008:17), essa vertente<br />

de interpretação do Islã é a Salafiyya.<br />

Salafismo e Wahhabismo<br />

Enquanto movimento, o Salafismo não apresenta uma articulação e coerência interna. O termo<br />

refere-se a um conjunto de movimentos surgidos a partir da segunda metade do século<br />

XIX, com propostas de reforma do Islã por um retorno ao ‘Islã dos predecessores’ (salaf), ou<br />

seja, o profeta Muhammad e seus seguidores imediatos. Como aponta Paulo Pinto<br />

(2010b:138-141), a falta de articulação entre as diversas correntes da salafiyya estava ligada a<br />

dificuldade em se definir o que eram essas origens e como deviam ser restauradas. O movimento<br />

historicamente teria surgido na Índia, Síria, Egito e Iraque, com a criação da madrassa<br />

de Deobandi, no norte da Índia, em 1867. Outras vertentes surgiram, com a Ahl al-Hadith<br />

(povo/família do Hadith), também na Índia. Essa vertente propunha uma leitura do mundo<br />

moderno a partir dos textos corânicos. Nesse enquadramento teria surgido Siddiq Hassan<br />

Khan, um dos precursores dos movimentos reformistas a apresentar uma “[…] hermenêutica<br />

do texto corânico [que] ressaltava os paralelismos deste com os conhecimentos produzidos<br />

pela ciência moderna, de modo a mostrar que fé e razão não eram incompatíveis.” (Pinto<br />

2010b:139). Siddiq Hassan Khan teria influenciado outros movimentos salafis em Bagdá.<br />

De um modo geral, todos os representantes do salafismo partilhavam do consenso a-<br />

cerca da importância e centralidade da apreensão intelectual dos conceitos e valores islâmicos<br />

codificados nos textos sagrados para uma vida religiosa adequada. Assim, apesar de varia-<br />

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