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Baixar - Proppi - UFF

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4.1 – Recontexto do problema. Religião e ciência no mundo contemporâneo<br />

Após tantas linhas de reflexão, algumas questões devem ser retomadas a fim de reorganizar os<br />

problemas e indicar possíveis soluções.<br />

Em primeiro lugar, quero chamar a atenção para o lugar do Islã na sociedade brasileira.<br />

Não fez parte de minhas preocupações durante este trabalho revisitar a teoria social da religião<br />

produzida no Brasil, de modo a localizar quadros gerais de análise que marcariam a sociologia<br />

ou antropologia da religião no país. De todo modo, dentro do próprio quadro de análise<br />

que construí, surgem algumas questões que podem ser remetidas ao tema da religião no<br />

Brasil.<br />

Um dos elementos trabalhados em meu texto foi a rede de conexões entre os intelectuais<br />

da comunidade carioca e outras instâncias e sujeitos em níveis mais amplos de participação.<br />

Assim, os debates e interpretações que se apresentam na comunidade carioca fazem parte,<br />

na verdade, de uma rede de codificações racionalistas do Islã, rede esta que está implicada<br />

em níveis locais, nacionais e transnacionais. A salafiyya e o wahhabismo, correntes de interpretação<br />

do Islã que informam as codificações da comunidade carioca, partem de Riad, Cairo,<br />

Medina, Quebec, ou outros muitos pontos de origem em alguma outra região do mundo onde<br />

o Islã é vivido como forma de vida religiosa, e, depois de postas em movimento, conectam diversas<br />

comunidades, cidades, países e fiéis muçulmanos. Intelectuais e ideias circulam na comunidade<br />

carioca, para a comunidade carioca e da comunidade carioca. Rio, São Paulo, Cairo,<br />

Paris, Jamaica, Quebec…<br />

Essa codificação religiosa que circula na comunidade carioca é parte de uma rede global,<br />

propõe uma conciliação entre Islã e ciência moderna, e para tanto estabelece conexões e<br />

diálogos com atores diversos em diversas partes do mundo. Assim, essa codificação religiosa,<br />

partindo do texto sagrado islâmico e do conjunto geral de conhecimentos científicos contemporâneos,<br />

articulando-os, não deve ser entendida simplesmente como comportando certo número<br />

de características socioculturais gerais capazes de fazer do Islã mais uma religião componente<br />

de um substrato comum da religiosidade nacional brasileira. A comunidade sunita carioca<br />

não produz uma codificação religiosa que é função apenas de um quadro nacional, supostamente<br />

típico. O exercício de interpretação do Islã que foi apresentado aqui estabelece conexões<br />

em suas práticas religiosas com os mais variados níveis de interlocução. Estou propondo<br />

um tipo de interpretação de um fenômeno religioso real, o Islã, no Brasil, caso locativo,<br />

mas não ‘brasileiro’, no genitivo. Não ‘brasileiro’ porque essa posição interpretativa que analisa<br />

uma religião como integrando parte da narrativa nacional esquece as mais variadas formas<br />

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