Baixar - Proppi - UFF
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as codificações religiosas circulem em circuitos e redes internacionais, conectando diversos<br />
pontos e agentes em codificações coerentes, são muito diversos esses agentes e muitas as possibilidades<br />
de comunicação dessas codificações. É importante perceber que isto não significa<br />
um desaparecimento total da autoridade religiosa em suas manifestações formais, políticas e<br />
institucionais, mas uma multiplicação de possibilidades de intervenção e parte no debate.<br />
Mais atores interferindo, mais meios de comunicação disponíveis – estes são alguns dos aspectos,<br />
facetas do processo de objetificação do Islã. Eickelman e Piscatori mencionam exatamente<br />
que a possibilidade de mais interlocutores tendo acesso a maiores possibilidades de<br />
comunicação fazem parte do contexto da política muçulmana contemporânea, assim como<br />
maior acesso a educação – os níveis de escolaridade em países de maioria muçulmana cresceram<br />
consideravelmente nas últimas décadas do século passado (Eickelman & Piscatori<br />
1996:40).<br />
A importância de se considerar a flexibilização da autoridade religiosa no Islã deve ser<br />
compreendida frente ao entendimento do Islã como uma tradição discursiva implicada numa<br />
ortodoxia – mecanismos de definição do modelo e da práxis correta de princípios religiosos<br />
(Asad 1986). Aqui encontramos a discussão de Talal Asad sobre como definir o Islã e sua<br />
antropologia. Talal Asad propõe que uma antropologia do Islã depende de conceitos mais<br />
adequados do que aqueles utilizados até o momento, em geral considerando o Islã como uma<br />
totalidade circunscrita por uma trajetória histórica idiossincrática, epifenômeno de uma dada<br />
estrutura social (Gellner 1981). A alternativa seria pensar o Islã como uma tradição discursiva,<br />
um conjunto de formulações concernentes tanto a modelos como a conjuntos de práticas<br />
envolvidas na performance e história de uma dada coletividade. Por tradição entende Asad a<br />
procura por introduzir forma e propósito correto em determinada prática, que por ser instituída,<br />
tem uma história. Desse modo, passado, presente e futuro estão conectados, na forma da<br />
instituição da prática, no agenciamento da correção de sua performance e na sua transmissão e<br />
manutenção. “Uma tradição islâmica discursiva é simplesmente uma tradição muçulmana de<br />
discurso que se refere a concepções do passado e futuro islâmico, com referências em uma<br />
prática islâmica particular no presente.” (Asad 1986:14 58 ). Tradição não é simples repetição<br />
de um passado em um presente, mas a busca por performance correta. Não é simplesmente inventada,<br />
mas referenciada no passado.<br />
A ortodoxia é central no Islã – e não apenas uma ortopráxis – na exata medida em que<br />
constitui uma relação de poder, uma disputa por quem pode afirmar-se como autorizado para<br />
58 No original: “An Islamic discursive tradition is simply a tradition of Muslim discourse that addresses itself to<br />
conceptions of the Islamic past and future, with reference to a particular Islamic practice in the present.”<br />
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