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Baixar - Proppi - UFF

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em árabe. Qualquer outro exemplar que não em árabe não é propriamente o Alcorão, mas uma<br />

cópia, uma tradução, um simulacro.<br />

Essa condição sagrada da língua árabe implica na sua centralidade para a própria prática<br />

religiosa, já que o texto corânico lido em árabe é considerado mais preciso, mais correto.<br />

Um convertido logo procura o estudo da língua, incentivado pelas lideranças nos sermões, nas<br />

aulas, panfletos. É possível adquirir materiais de estudo da língua no bazar de sexta-feira. Aulas<br />

particulares com membros versados no idioma são uma opção comum, até mesmo para interessados<br />

não-muçulmanos 58 , o que evidencia a necessidade imperiosa de dominar o idioma<br />

por sua centralidade na vida religiosa da comunidade. Uma apostila vendida no bazar oferece<br />

o trigésimo livro do Alcorão – o livro sagrado é dividido em 30 partes – transliterado e traduzido.<br />

Trabalho de Samir El Hayek, autor já mencionado. A apostila apresenta um fac-símile<br />

do texto em árabe na parte superior da página, e no corpo do texto duas colunas, a da esquerda<br />

com a transliteração em árabe, à direita o texto traduzido em português. A apostila é oferecida<br />

para interessados na leitura do texto sagrado no original. O que é importante marcar aqui é<br />

que, em se tratando do livro sagrado, não basta que a mensagem seja captada, que a revelação<br />

seja apreendida pelo fiel. É preciso que ela seja apreendida em sua totalidade, a partir de um<br />

padrão legitimado, ou seja, pela língua árabe, a única capaz de oferecer a mensagem por completo.<br />

Tão importante, então, quanto apreender o conhecimento, é apreendê-lo via um determinado<br />

canal considerado perfeito, garantindo completude. A apostila comenta a transliteração<br />

realizada: “O que fizemos, foi usar a melhor expressão que conseguimos compreender do<br />

texto árabe, sem a pretensão, porém, de transmitir o ritmo, a musicalidade e o tom exultante<br />

do original para a versão portuguesa.” (Hayek 2003:5). Não só exalta-se do idioma a perfeita<br />

transmissão da revelação, mas atributos estéticos, assim como seus efeitos no leitor: “No que<br />

diz respeito ao significado geral dos versículos, à medida que avançamos em nosso estudo,<br />

encontramos um indescritível prazer interior e esse significado aumenta à medida que aumenta<br />

a nossa capacidade de compreensão.” (Hayek 2003:6). Assim, uma experiência estética e<br />

intelectual.<br />

A referência ao idioma também aparece nas publicações. Munzer menciona: “A palavra<br />

Allah significa Deus no idioma árabe […]. A palavra Allah não possui variação de gênero,<br />

de número e nem de grau, ao contrário do que acontece com a designação de Deus em outros<br />

idiomas, por isso os muçulmanos optam sempre por utilizar o nome em árabe.” (Isbelle<br />

58 Bruno Ferraz, antropólogo, colega de NEOM e companhia constante na mesquita durante diversos momentos<br />

da pesquisa, por exemplo, contratou os serviços de Munzer Isbelle como professor de língua árabe para<br />

aprofundar seus conhecimentos no idioma, indo além do que era fornecido pelas aulas.<br />

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