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cem. De acordo com Munzer, essa discordância entre os cristãos implica na pergunta sobre a<br />

natureza da revelação bíblica. Mais uma vez o texto cristão é alvo de intenso escrutínio, com<br />

detalhamentos e referências variadas, permitindo a conclusão: não há comprovação da autoria<br />

dos evangelhos cristãos. Não há alegação da revelação pelos supostos autores – há sim grandes<br />

contradições. Fatores históricos como o humanismo renascentista, a reforma protestante e<br />

a santa inquisição contribuíram para separar o homem da religião, enquanto a revolução científica,<br />

patrocinada pela burguesia, pregava a separação entre fé e razão, ciência e religião.<br />

O darwinismo, teoria criada pelo naturalista Charles Darwin e publicada no ano de<br />

1859 no livro A origem das Espécies, serviu como respaldo para que os materialistas<br />

pudessem desferir o golpe fatal, afastando a igreja da ciência e com ela todas as outras<br />

religiões, dentro de um suposto ‘cientificismo’. (2010:27, destaque meu)<br />

Ao apresentar os filósofos ocidentais contemporâneos, Munzer mais uma vez esquematiza<br />

grupos de argumentos, onde enquadra os filósofos. O primeiro grupo defende a revelação<br />

como origem da religião, tendo Descartes como o maior representante. O segundo grupo<br />

defende que a revelação é fonte de conhecimento, de onde surge a noção de religião natural,<br />

nas figuras de Spinoza e Kant como exemplos. E o terceiro grupo defende uma espécie de antropologia<br />

da religião, ou seja, religião como obra humana. Essa ocidental desconfiança seria<br />

função de uma instabilidade do estatuto da revelação da bíblia cristã.<br />

Não se pode questionar o posicionamento tomado pelos cientistas e filósofos acerca<br />

da Bíblia, pois como vimos, eles estavam diante de um livro de origem duvidosa e<br />

que se contradizia com as descobertas científicas. O que se questiona é o fato deles<br />

estenderem esse posicionamento a todos os outros livros. (2010:29, ênfases minhas).<br />

A impossibilidade do questionamento deriva de sua plausibilidade lógica pela análise racional<br />

da natureza do texto. Assim, uma dificuldade de determinar a qualidade da revelação divina<br />

em um livro revelado particular, a Bíblia, faz com que o estatuto da revelação como forma de<br />

conhecimento seja negada a todo e qualquer livro religioso. A continuação do argumento de<br />

Munzer é exatamente mostrar que essa imputação não é válida para o Alcorão.<br />

O Alcorão, preservado em memória e em texto, é repleto de particularidades – aquelas<br />

já apresentadas em outras publicações: origem divina, em árabe, de fácil entendimento, universal<br />

e eterno, abrangente e, como milagre de Muhammad, o último dos livros revelados. É<br />

eloquente e pleno de verdades científicas. “Assim, é perfeitamente legítimo não apenas considerarmos<br />

o Alcorão como a expressão duma revelação, mas, também, darmos a revelação alcorânica<br />

um lugar absolutamente à parte, em razão do aval de autenticidade que ela oferece, e<br />

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