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Baixar - Proppi - UFF

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no Império Otomano, a centralização política e a marginalização das elites árabes da estrutura<br />

burocrática e administrativa devem ser considerados fatores indiretos; e que como fatores<br />

diretos devemos tomar o desenvolvimento econômico da região do Monte Líbano na indústria<br />

da seda, as missões religiosas (católica e protestante) no Império, a Primeira Guerra Mundial,<br />

os mandatos britânicos na Palestina e francês na Síria e Líbano. Assim, a criação da Mutassarifiyya<br />

no Líbano, dando-lhe autonomia política, permitiu o crescimento do aporte de capital<br />

estrangeiro e o consequente desenvolvimento econômico. Esse crescimento econômico cria<br />

novas demandas empregatícias, cooptação da mão de obra camponesa e sua monetarização.<br />

Essa nova divisão do trabalho permite uma integração dos camponeses à economia monetarizada<br />

do capitalismo internacional, e sua principal consequência, de acordo com Paulo Pinto<br />

(2010a:33), é a diluição relativa das fronteiras que separavam camponeses e proprietários rurais.<br />

A década de 1880 viu a entrada de concorrentes da seda no mercado europeu vindos da<br />

Ásia, especialmente China e Japão, com a facilitação do contato pela abertura do Canal de<br />

Suez em 1869. O aumento da concorrência e a diminuição da renda irá implicar na tentativa<br />

de buscar novas fontes de recursos financeiros para evitar o declínio econômico. “Nesse contexto,<br />

a emigração vai surgir em épocas de crise como estratégia para manter o padrão de vida<br />

alcançado e não como o resultado inexorável da miséria.” (Pinto 2010a:34)<br />

Surge rapidamente a pergunta: por que o Brasil? Ao que se pode retrucar “por que<br />

não?”. Segundo Paulo Pinto, a ideia de que o Brasil era terra ignota não se sustenta. Relatos<br />

de viagens às Américas, com o do já mencionado imam al-Baghdadi, circulavam no Império<br />

Otomano, que havia assinado um acordo de paz e comércio com o império brasileiro e aberto<br />

uma embaixada no Rio de Janeiro em meados do século XIX. Além do mais, há as viagens do<br />

imperador D. Pedro II ao Líbano e Síria na década de 1870, e doações por ele feitas a instituições<br />

de ensino na região poderiam ter cooperado para construir a imagem do Brasil como<br />

lugar de prosperidade.<br />

Paulo Pinto destaca o papel das missões religiosas no desenvolvimento do processo<br />

migratório. Afirma ele (2010a:36):<br />

O impacto das missões protestantes foi menos religioso que intelectual. Como a<br />

conversão ao protestantismo se dava em uma base individual e não com a transferência<br />

de facções do clero e dos fiéis como no caso dos católicos, os missionários se<br />

concentraram em criar instituições de ensino para tentar atrair as elites locais para o<br />

seu projeto evangelizador. […].<br />

Mais que os conteúdos formais da religião, as escolas missionárias protestantes inculcavam<br />

uma visão de mundo moldada segundo os ideais culturais americanos do<br />

self-made man, o qual marcou o imaginário da classe média intelectualizada que re-<br />

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