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Baixar - Proppi - UFF

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os de acordo com critérios quantitativos. O importante é compreender quem são aqueles<br />

percebidos com ‘a quem podemos ou devemos nos dirigir’ em situação de dúvida. De um determinado<br />

ponto de vista, parece plausível supor que o conhecimento da religião detido por<br />

‘seu Mohamed’ seja tão profundo quanto o de Fernando, senão maior, visto ser muçulmano<br />

de origem. Mas quando se trata, da parte de fiéis menos experientes ou com menos domínio,<br />

de sanar uma dúvida, alguns nomes em particular são mencionados, e essa menção é índice do<br />

reconhecimento da autoridade no assunto.<br />

Ao conversar com um dos fiéis e solicitar uma futura entrevista, recebo a resposta: “Hi<br />

rapaz, mas eu sei tão pouco da religião. Eu sei pouco. Quem sabe assim, da religião, do Islã<br />

mesmo, é Fernando, Sami, o Samir... você tem que conversar com eles.” Ao explicar que não<br />

só já havia tratado com todos aqueles, mas que também me interessava conversar com ele em<br />

particular, sua resposta segue: “Hi, mas eu sei muito pouco. Não, eu te ajudo, não tem problema<br />

não... você tá aí fazendo a pesquisa, eu te ajudo. Mas só to avisando que eu sei pouquinho!”.<br />

Dependendo do ponto de vista assumido, é possível discordar de sua afirmação, pois<br />

muita informação útil me foi passada por ele. O que esta fala revela é a posição em que ele se<br />

coloca frente à autoridade de outros membros da comunidade, mais autorizados a ‘falar sobre<br />

o Islã’ porque ‘sabem mais’ do que ele. Qualquer pergunta sobre a religião encontrará alguns<br />

canais disponíveis para resposta, e esses canais levam às autoridades reconhecidas da comunidade.<br />

Ser uma autoridade reconhecida como detentora de vasto conhecimento sobre a religião<br />

não implica, por outro lado, que não hajam limites de conhecimento, questões não respondidas,<br />

talvez não respondíveis. A autoridade nesse contexto também precisa saber lidar com<br />

suas limitações já que a transação do conhecimento na comunidade também envolve um aspecto<br />

moral. Uma pergunta que não pode ser respondida deve ser seguida do reconhecimento,<br />

humildade e retidão moral na impossibilidade de resposta. Esse princípio vai do mais recente<br />

revertido aos professores de religião. Como já afirmei, esse reconhecimento da limitação do<br />

conhecimento detido é também impulso para novos estudos, leituras, aprofundamentos. Mesmo<br />

que, ao fim, seja para reconhecer o mistério da criação de Deus: quando Sami não pode<br />

explicar o sentido de letras inicias isoladas no Alcorão – este conhecimento pertence a Deus,<br />

desse limite não se pode passar sem sair do que é lícito, e o misticismo é ilícito.<br />

A participação para fora da comunidade, como no caso da série Sagrado, é outra forma<br />

de valorizar a atividade de busca de conhecimento individual sobre a religião e sua propagação<br />

entre os não-muçulmanos. Assim é que Fernando menciona, com algum orgulho, sua participação<br />

relativamente constante em atividades fora da mesquita, como palestras, cursos,<br />

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